sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Dia 16/08 – Dia do Filósofo e meu aniversário

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Hoje (16/08) é dia do Filósofo. Sinceramente eu nem sabia que existia esse dia. Procurei na internet para saber se é algum dia instituído pela ONU ou por alguma instituição renomada, mas não encontrei nada. De onde surgiu? Por que precisamos, filósofos, de um dia? Porém, coincidentemente é o dia em que nasci, assim como foi o de Tiradentes, do Oscarito, de Bukowsky, do Millôr, do Marcelo Nova e da Madonna. É também quando morreu Elvis, Bela Logosi e Robert Johnson.

Entre nascimentos e mortes ilustres (ao menos para mim), eu estou entre o Pop, o Clássico e o Cult, mesmo anonimamente e, agora, quase cataléptico. Fazer aniversário é estar mais perto de deixar de existir. Que constatação estranha! Mais um ano de vida é mais um ano perto da morte. E todos os amigos, carinhosamente, nos dão parabéns e, não raro, presentes. Minha irmã, com 7 anos na época, havia pedido aos meus pais uma bicicleta ou um irmãozinho. E eu vim ao mundo. Ela perdeu a bicicleta rs...

Há quem se irrite e ache falsa modéstia quando reforço que sou postulante a filósofo. Como se tornar um? Como se autodenominar um? Que direito temos, formados ou não, em nos titularmos filósofos? É muito vago dizer que é filósofo aquele que olha racionalmente a realidade. Ou que a explica. Ou que a investiga. Qualquer um de nós, bastando respirar, faz isso. Não há nada que façamos que não seja racionalmente. Até respiramos racionalmente. Há quem diga que, por ser automático e ser em nível subconsciente, a respiração não é racional. Mas quem determinou que fosse racional apenas aquilo que é intencional e raciocinado? A racionalidade está em tudo, ela é contingente, econômica... A “ratio” pela qual as coisas se dão independe de uma vontade, de uma intenção ou de um plano prévio para acontecer. Quando nos abstraímos da circunstância para lermos o Logos dos acontecimentos e interferirmos nele, estamos estabelecendo apenas outro tipo de “ratio”. O próprio ato de observar já estabelece outra “ratio”. Mas tudo isso é “ratio”.

Essa mania de separar, classificar e hierarquizar do ser humano não tem nada a ver com o desvendar da natureza, mas com o desvendar dos aspectos da natureza que nos sirva para um controle mínimo que atenda nossas necessidades, desejos e impulsos. Mas como confiar nisso se a própria “ratio” humana é incontrolável já que nasce das mais profundas pulsões titânicas de nossa espécie? Pulsões despertam interesse. O interessem forjam uma racionalidade focada em atendê-los. A racionalidade interpreta a natureza a partir desse interesse, estabelecendo o que é e o que não é objetivo. Por fim, nos autoenganamos antropicamente dizendo que sabemos como a natureza é cientificamente a partir de nossos critérios de objetividade. Interesse.

A grande responsável pela hegemonia do ser humano no planeta foi nossa incrível capacidade de autoengano. Convencemo-nos facilmente daquilo que atende aos interesses despertados por nossas pulsões.

Então a filosofia não tem a ver com a “ratio”, com a racionalidade? Tem... Mas não se limita a ela, vai além dela. Existe uma palavra grega que foi traduzida como “ratio” pelos romanos, mas que amplia, em muito, o que entendemos por racionalidade. É a palavra “Nous”. Isso sim faz um Filósofo a meu ver. A “Nous” é essa capacidade de ir além da apreensão da “ratio” (que estabelece o “como”) para interrogar e apreender o sentido, a motivação, o interesse, a metafísica pela qual se dão as coisas de forma perceptível no real. A “Nous” é o tipo de racionalidade responsável pela apreensão do sentido das coisas a partir do estudo crítico de como elas se dão em relação umas com as outras. A “ratio” é prática, a “nous” é teorética. Elas compreendem a racionalidade humana e o filósofo é aquele que está sempre para além da “ratio” para SER em “nous”.

Aconteceu com as palavras “ratio” e “nous” o mesmo com “moral” e “ética”. “Ratio” e “Morus” se constituem na tradução literal latina de “Nous” e “Ethos” gregos. Porém, os pragmáticos romanos assenhorearam-se dessas palavras imersos em seus próprios interesses. Não foi nada proposital essa deturpação, mas simplesmente uma característica da racionalidade humana. É o que fazemos: o assenhoreamento interesseiro do mundo, organizando-o a partir dos valores atribuídos aos nomes. Esses valores, por sua vez, estabelecem-se vetorialmente a partir do conflito de forças exercidas por Vontade de Potência. Portanto, nas mãos (boca e mente) dos romanos, Ethos (o sentido, a cosmovisão) que fundamenta as relações humanas entre si e com o mundo, transforma-se em Moral, em regra, em normas de conduta. Nous (a apreensão do Logos, a capacidade teorética humana), que fundamenta a racionalidade e a capacidade humana de desvendar o mundo e o sentido das coisas, transforma-se em Razão (ratio), ou seja, em leis pelas quais as coisas não só se dão, mas em como todas as coisas “devam” se dar.

O mundo conhecido é fruto das pulsões humanas: do SER. O mundo desconhecido é fruto do medo e da ignorância: de DEVER. Pelo jeito, a sabedoria (Sophia) só nos serve para constatar o quanto somos cretinos. Essa é a função do Filósofo. Se hoje é nosso dia e se nos dignificamos a nos titularmos assim, então devemos assumir essa função, mesmo que não deixemos (por impossibilidade) de sermos cretinos com o restante da humanidade.

Hoje, um postulante a filósofo, cretino, faz aniversário no dia do filósofo. Gostaria de compartilhar com os amigos algumas coisas que apreendi nesse tempo de existência que se encurta dia a dia.

Coisas que eu aprendi com a idade:

- Que não nos tornamos velhos, mas temos a escolha de sermos jovens há mais tempo que a maioria;

- Que entre seus juízos sobre o que é supérfluo e o que é necessário, sempre questione se o supérfluo não é o que você acha que necessita e se aquilo que você julga como supérfluo é o que realmente faz a diferença;

- Que a consciência da finitude não requer que tenhamos necessidade de transcendência. Podemos transcender aqui e agora e desde sempre para além de nós e contribuir para um mundo melhor, menos excludente, mais solidário e acolhedor a toda vida;

- Que as coisas só possuem o sentido que você se permite assenhorear-se e que viver de verdade não é se tornar escravo de determinações, mas assenhorear-se de novas sempre que precisar;

- Que a confiança em si mesmo envolve também mudar de ideia, permitir aviltar-se e, sobretudo, trabalhar a vaidade e o orgulho excessivo;

- Que uma vida sem amor não é vida, mas que a dor, a morte e as fatalidades em geral fazem parte do pacote “viver”. Se você não os quiser ou não estiver preparado minimamente para eles, você não viverá de verdade. Fugir deles é fugir da vida. Procurá-los, porém, é burrice;

- Que aproveitar a vida é, inevitavelmente, aceitar a morte. Pensar o contrário é como querer comer um bolo delicioso sem que ele diminua a cada garfada, ou seja, ilusão e cretinice. Você pode até querer, mas vai morrer querendo sem fazer nada que valha a pena;

- Que viver é encontrar uma dialética equilibrada entre circunstância e sentido. Essa dialética trabalha a favor de nossas realizações e felicidade, ou seja, quando a circunstância é péssima, nos apegamos ao sentido que construímos e enxergamos a circunstância como meio de atingi-lo, mas quando o sentido está difícil e há obstáculos, exercitamos a paciência construindo nas circunstâncias pontos de apoio que nos fortaleça. Carpe Diem;

- Somos cadáveres adiados (como dizia Fernando Pessoa). Não há necessidade alguma de acelerar esse processo, mas ele é inevitável. Portanto o que vale é se potencializar e não se preservar. Muitas vezes nos potencializamos ao nos preservar, mas não é regra;

- Amor Fati.

Bem, é isso... Logo eu volto a escrever nesse espaço tão caro à minha existência, mas que anda abandonado por motivos muito além de minhas vontades.

3 comentários:

Eduardo Aunaso disse...

Com um certo atraso, mas PARABÉNS.

Muito bom. Muito bom.

Anônimo disse...

HÁ POUCO DESCOBRI O BLOG.
FIQUEI MARAVILHADO.
TENHO LIDO AVIDAMENTE.
TAMBÉM NASCI EM 16/08, EM 1971.

A POSTAGEM DE NIT E A DEMOCRACIA...-, A MIM REVELA UMA LUCIDEZ OFUSCANTE.

POR TUDO, PARABÉNS É O MÍNIMO QUE POSSO DIZER

RODRIGO

Tom disse...

Olá Miranda, sou o Tom, seu amigo virtual há muitos anos do antigo Orkut. Sai fora do sistema há mais de 15 anos, e acabo de voltar depois de muita reflexão. Pensei que depois de tantos anos eu encontraria um mundo melhor, mas, a única coisa que melhorou foi a tecnologia, em humanas ocorreu o contrário piorou. Espero que se lembre de mim. Para me ajudar a subverter os valores do Sogad... Algo que devo ajudar fazer antes de sair em definitivo deste mundo infeliz...

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