Estava na Book Prime, no Shopping Jacareí tomando aquele expresso feito pela vendedora (alias, todas atendem super bem), quando de relance vi um livro intitulado “Planejar Gêneros Acadêmicos”, de Anna Rachel Machado (coordenação), Eliane Lousada e Lília Santos Abreu-Tardelli. Chamou-me especial atenção esse livro, pois ao foleá-lo, percebi que não se tratava daqueles manuais chatos de como fazer uma tese, ensaio, monografia ou coisa que o valha. Eram dicas que ultrapassavam a formalidade de um gênero científico, e que permeavam desde a escolha do tema, pesquisa, formulação e a própria construção da situação de produção. Achei muito interessante e comprei.
Tem um capítulo nesse livro que se chama “A elaboração e manutenção de um diário de pesquisa”, na seção 2, página 23. Uma das autoras diz:
“Se você procurar biografias de grandes pensadores e escritores, dificilmente encontrará algum que não tenha mantido um ‘diário’ ou um ‘diário de pesquisa’. É o caso, por exemplo, de Malinowski, Leiris, Morin, Ferenczi e Wittgenstein, Virgínia Wolff, Elias Canetti e tantos outros. Há até um livro que fala só sobre isso (Le journal de recherche, Lourau, 1.988).
Assim, consideramos que é indispensável que, desde o início de seu trabalho, você comece a redigir o seu diário de pesquisa.”
Nesse livro, fica clara a evolução do pensamento de Darwin e a influência de cada leitura, pesquisa, viagem e troca de correspondência com seus amigos no decorrer da formulação de sua Teoria da Evolução. No entanto, há uma diferença fundamental entre um Blog (que é um diário eletrônico e de acesso a todos) e um diário secreto, pessoal (que também pode ser eletrônico, claro). Além do óbvio (em um, todos podem ler e opinar, enquanto que em outro só você lê), existem características próprias em cada um que valem dar uma pincelada.
Só o fato de sabermos que alguém irá nos ler de forma quase instantânea assim que publicarmos um texto em nosso Blog (mesmo que ninguém leia, claro !) já nos faz filtrarmos muito o que escrevemos. Em geral, não gostamos de nos expor: mesmo que nossos escritos fiquem para nós mesmos, sempre há uma perspectiva de que ele fique para posteridade depois de nossa morte. Penso aqui, com meus botões, que sendo aberto ou secreto, um diário sempre carrega em si a perspectiva de alguém um dia ler. Nunca tive um diário, mas imagino que seja assim. Será que é possível externar algo cuja expectativa seja de somente nós mesmos desfrutarmos ?
Enquanto leio o livro de Quammen, fico imaginando Darwin e seus cadernos de apontamento (ele chamava de caderno A, B, C, D e assim sucessivamente) e as coisas que ele permitia-se dizer. Penso aqui comigo que ele iria queimá-los todos se, ao final de suas escritas, não chegasse ao cerne de seus questionamentos e a uma resposta lógica válida; mesmo que ela atendesse apenas os seus crivos racionais. Teria ele permitido a existência de seus cadernos se sua teoria fosse inverossímil ou pelo menos não convencesse a si próprio ? O que ele fez foi deixar um legado maravilhoso à humanidade; não só sua teoria no exemplar de “A Origem das Espécies”, mas sim como ele a construiu, ponto a ponto; seu raciocínio, através da dúvida sistemática, passando de uma concepção criacionista (sim, ele era graduado em teologia em Cambridge e estudou para ser clérigo presbiteriano), aristotélica por excelência, para, aos poucos, transformar sua cosmovisão em heraclitiana, vaticinando o transformismo de todo ser existente ao longo do tempo. Fantástico observar isso...
Quem sabe muita coisa mais virá pela frente, pois parece-me que a leitura desses dois livros me abriram horizontes interessantes no sentido de manter e ser mais assíduo em meu próprio Blog.
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