segunda-feira, 14 de julho de 2008

História, Historicidade, Historiografia e Filosofia

HISTÓRIA DA FILOSOFIA É engraçado como o problema real do ensino da História da Filosofia nos ensinos médios e superiores passa a largo da maioria das discussões sobre esse tema.

Se a História, enquanto disciplina, precisa se preocupar com as epistemes das épocas, ela não deveria ser tão impiedosa com os chamados perdedores e tão complacente com os chamados vencedores.

Para que serviria então a História enquanto ciências ? Aqui caberia fazer uma Filosofia da História para se saber como abordar a História da Filosofia, não é ?

Essa é uma falha imensa da Filosofia a meu ver. Quando ela, acertadamente, coloca como obrigatório o estudo histórico e a formação de uma bagagem de cultura geral antes do ato de filosofar, deveria antes praticar o que faz nas diversas ciências que analisa. Deveria, antes de tudo, ver se a forma como se faz a história responde realmente aos propósitos a que ela se propõe. Ela não faz isso, infelizmente... Aí, faz total sentido criticar as horas-aulas excessivas no ensino de História da Filosofia, tanto no ensino médio quanto nas Universidades.

O problema então, não está numa suposta carga excessiva de conteúdo histórico na formação de um filósofo, mas sim na historiografia que se usa, herdada de posturas viciadas que legitimam e privilegiam uma cosmovisão específica, e que coloca em evidência apenas o que interessa a um pequeno grupo que, "historicamente", foi responsável por selecionar o que deveria ou não ser estudado.

Não se questiona, por exemplo, os pressupostos dos autores que escrevem a História. Cada momento da História se liga num contexto que “liga” e se lêem inseridos em seu conjunto de significados que devem ser inferidos muito mais por aqueles que os estuda, do que daqueles que os reporta a nós. É na dialética de uma longa duração histórica que um ponto histórico qualquer emerge em toda sua plenitude.

Quando se estuda isoladamente Platão ou Aristóteles (que são os grandes privilegiados dessa historiografia viciada), perde-se toda uma confluência de pensamento que eles próprios, para produzir o que nos legaram, revisitaram exaustivamente. Furtam-nos, no modelo atual, de percorrermos esse mesmo caminho para pensarmos com eles, fazendo exatamente o oposto do que o estudo da História nos propõe em seus fundamentos epistemológicos.

Aceitar essa historiografia acadêmica, é considerar a Filosofia como um museu departamentalizado pelos interesses políticos de seu curador, que o abre para ostentar sua posição, e não para o esclarecimento das pessoas que viveriam bem melhor adotando uma abordagem mais filosófica em suas vidas. Apresentar a história permeada de um sentido construído à revelia de quem a estuda, é perpetuar uma significação que se estanca num entendimento fixo do mundo, tão plural e multifacetado que a torna anacrônica e desestimulante aos olhos da juventude: foco máximo da reflexão filosófica.

Esse sentido apolíneo da historiografia oficial, com seus sentidos, causas e feitos pré-determinados, se opõe ao verdadeiro espírito da própria cultura grega pré-indo-européia, dionisíaco per si, que nos requer garimpando cada eixo e detalhe de pensamentos diversos numa imensa colcha de retalho a ser trabalhado seu fio-condutor a posteriori; na construção de significados que os leitores tenham condições de fazer.

Buscar um fio condutor alternativo, que não se renda, mas também não se oponha necessariamente, à historiografia oficial, é, sobretudo, libertar a Filosofia das amarras ideológicas que permeiam sua atividade de ensino. Só quem se viu livre delas pôde produzir obras de relevância que puderam cotejadamente, desvendar cada vez mais o homem, seu meio, e sua relação com ele e si mesmo.

Relegaram o corpo e o prazer a objetos abjetos que dificultam ou impedem que atinjamos idéias superiores. Se fôssemos capazes de existir sem corpo, e de nos relacionarmos com o mundo sem ele e nossas percepções, talvez fizesse algum sentido isso. Se esse corpo que habitamos nos impede de algo, é através dele que esse algo é percebido, e relega-lo a uma segunda classe de natureza humana, é renegar nossa própria natureza enquanto existentes no mundo, almejando algo que apenas queremos que exista.

Filosofia se faz com o corpo, com a mente, e com as pessoas. Resgatar os pensadores que foram relegados nessa pseudo-história dos vencedores é função mais do que orgânica, é condição existencial de quem almeja uma filosofia livre e de bem com a vida.

Aos adoradores de Platão, Aristóteles e de toda historiografia oficial; nada contra eles ou contra ela mesma. Contra, estou a toda manipulação de informação a serviço de um status quo que legitima grande parte dos paradoxos infindáveis que a civilização ocidental se vê a mercê.

Por uma Filosofia da História que traga honestidade à História da Filosofia.

2 comentários:

CONSULTORIO MODA HOMEM disse...

muito bom seu blog é dificil achar algo com conteudo por aqui abracos

garrafinha12 disse...

Gostei do Texto e me identifico com várias de suas críticas, que também ocorrem no ensino de história, principalmente pelos adeptos da história tradicional.
Não lembro quem falou, mas: não é certo que uma homem vista suas roupas de criança, como não é correto analisar a sociedade de hoje com as metodologias do passado.
Por este motivo acredito que a nova história venha a solucionar vários dos problemas, porém continua a "beber" nos clássicos, mas acho que grande parte do problema se resolve com ela.
Não sei qual a sua visão da nova história, mas ela é bem singular, porém, produz reflexões mais consistentes.

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