domingo, 14 de setembro de 2008

Aceitar a Realidade

Aquele ser humano que usa a Filosofia para olhar o mundo não "aceita" a realidade. Ele a perscruta, quer entende-la, quer sonda-la para descortinar-lhe seus fundamentos e motivos.

Isso não se constitui uma fuga covarde. Não ir ao encontro cômodo de aceitar as coisas como elas são, exige um ato de coragem que faz com que sua consciência tombe perante aquilo que parece ser, mas pode não ser. Mesmo os que nos legaram um sentido objetivo e positivo da realidade e da natureza em si, não a aceitaram antes que a considerasse em "crise", isto é, antes de quebra-la em partes e critica-la para inferir os motivos dela ser como ela é sob suas próprias perspectivas.

Esse negócio de "aceitar" a realidade, parece ser mais afeito à Filosofia Oriental; contemplativa. Sem nenhum demérito, claro, até por que tem sua contrapartida no Estoicismo, cuja aceitação da fatalidade e manter-se equilibrado diante dos movimentos é o mote principal. Talvez isso seja uma fuga, mas não necessariamente covarde. Não existe covardia alguma na Filosofia. Tanto a inação contemplativa oriental, quando a ação crítica que provoca cisões na realidade são atos corajosos que procuram levantar nossa consciência frente as crises intelectivas que a tombam perante nossas percepções.

Mas não podemos esquecer que o que nos chega da realidade em nós passa pela percepção e depois sofre uma interpretação interna; associativa, relacional e inferencial. É bem provável que tenhamos acesso  apenas a uma parte ínfima e não-substancial do que intuímos ser a realidade, e tomamos essa parte como o todo, partindo para conceituar tudo com base nisso.

4 comentários:

Elis Zampieri disse...

Oi Gilberto, lendo seu post, fiquei pensando que existe uma relação "aparentemente" íntima entre o filósofo e o poeta, ambos parecem reinventar, criar uma forma própria de ver o mundo.
Boa reflexão!
Tem um premiozinho pra você no Sobre Educação.

Cris Correa disse...

Eu GOSTEI *-*

Gilberto Miranda Jr. disse...

Querida Elis, essa relação não tem nada de "aparente" não, amiga... É íntima, intrincada, muitas vezes explícita e promíscua (ainda bem rs)...

A poesia, que requer um Logos mítico-emocional, a meu ver, é pre-requisito para o desenvolvimento de um Logos lógico-racional próprio da Filosofia.

Na verdade, assim como vejo a Filosofia como pressuposto da Ciência, vejo também a Poesia e a capacidade metafórica humana como pré-requisito para o ato de Filosofar.

No entanto, mesmo sendo pré-requisitos para outros Logos, tanto a Poesia quanto a Filosofia não se configuram "inferiores" ao que elas pré-requisitam. São independentes, deslocando a relação de dependência para o que viria depois, e não enquanto elas próprias. Entende esse ponto?

O meu filosofar sempre passa pelo afeto intenso e poético das coisas que me cercam, para só depois cercar aquilo que apreendo de um discurso inteligível e formal; argumentativo.

Obrigado pelo comentário, amiga... E obrigado pela indicação...

Daniel Alabarce disse...

tem sido muito bom conviver com você, Gilberto, por que agora eu consigo entender boa parte do que você fala, e ficou até mais fácil ler alguns textos mais complicados... rsrsrs!

Que bom que você veio em nossa defesa, por que o que se pensa mesmo é que um filósofo busca apenas um outro caminho, mas não o real. É Como se estivéssemos sempre numa utopia de fuga desta realidade!

E, em verdade, o que questionamos é por que a realidade é assim e não de outro modo? Quais os fundamentos para que tudo se estruturasse desta forma e não de outra?

É complicado aceitar uma realidade que desumaniza, que coisifica, que nadifica o sentido da nossa existência, pois isto não é natural. E se não é natural, não pode permanecer.

E nós, os que nadam contra a maré, nos questionamos: deve haver um outro meio, deve existir algo mais, algo que subjaz imanente ao homem que precisa ser lançado para fora, algo como um grito de liberdade... mas que está sufocado no inconsciente da massa.

Não somos covardes de maneira alguma, é verdade!
Muito pelo contrário, só alguém que perdeu tudo mesmo é que se arrisca a pensar de outra forma e lutar para transformar a realidade, posto que, tendo perdido tudo e não tendo recebido nada de útilo desta realidade real, busca encontrar uma outra... mais humana!

ah, chega de escrever bobeira!rs! Bou almoçar agora!

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