sábado, 2 de maio de 2009

Existência na Fenomenologia

Para a fenomenologia a existência é faticidade. Aquilo que se vê, sensível, interagente entre os de mesma categoria, existentes. No entanto, melhor seria separar essa faticidade considerada pela fenomenologia da faticidade considerada pelo existencialismo.

A fenomenologia, assim como o próprio existencialismo, assemelha-se mais a uma abordagem, a um método para um pensar filosófico do que um corpo de princípios conceituais unificados que se possa denominar uma “Filosofia”.

Portanto, dentre os que adotam o método fenomenológico para lançar um olhar sobre a existência, muitos deles escolheram questões teoréticas que ora privilegia a existência em si mesma, ora privilegia o existente e como ele olha para a existência.

husserl_edmund Edmund Husserl (1859-1938), considerado pai da fenomenologia, foi o primeiro a tentar organizar o método fenomenológico, adotando uma teorética diferente dos existencialistas, embora tenha influenciado a todos eles e tenha sido pioneiro e inspirador das idéias de Heidegger (1889-1976), Sartre (1905-1980) e Merleau-Ponty (1908-1961) entre outros. Husserl estava interessado no sentido subjetivo da existência, colocando a própria existência, segundo suas palavras, em “parênteses”. A faticidade existencial que preocupava Husserl era a que dava sentido à existência das coisas e determinava as coisas naquilo que elas são enquanto existentes. Dessa forma procurava a essência, o sentido que configurava a existência, aquilo que era determinante de sua figuração sensível. A existência dos fatos, em si mesma, deveria ser colocada em parênteses para que fosse entendida através dos sentidos que a colocava em evidência.

Há de se diferenciar, porém, que essa busca de sentido, do fundamento existencial das coisas, não se referia a uma busca de propósitos ou princípios pré-existentes que determinassem irresistivelmente a configuração das coisas como elas são. Procurar o sentido de algo existente enquanto tal, era, à partir de sua faticidade, mapear os conteúdos subjetivos e históricos que os categorizariam. Não era, portanto, partir de apriorismos que determinassem sua faticidade.

Heidegger Heidegger, distanciando-se de Husserl nesse sentido, buscava no próprio fato existente o sentido que o configurasse, influenciando Sartre e Merleau-Ponty. Ponty, por sua vez parte de Heidegger para voltar a Husserl, tentando dar continuidade ao seu legado fazendo a ligação entre sentido e existência através da percepção.

Enquanto Husserl permanece na investigação do significado das coisas que existem, e Heidegger e Sartre se interessam pelo fenômeno em si, isto é, as coisas que existem como fato, Ponty tenta unir numa visão mais ampla e abarcante tanto o fenômeno quanto o sentido dado ao fato pela percepção e a intersubjetividade.

sartreO que interessava Husserl e posteriormente Merleau-Ponty é como o sujeito  apreende o fenômeno, os atos de consciência envolvidos nessa apreensão, indo ao interior e ao subjetivo. Husserl pretende fazer uma análise do ponto de vista do espírito e das motivações envolvidas na apreensão dos fenômenos. Ponty vai além e amplia a dimensão desse espírito para as questões da corporeidade, partindo dessa corporeidade como co-determinante da subjetividade.

Os existencialistas partem do próprio fenômeno, como existente, e suas implicações na sua relação com o sujeito. A própria existência humana e como ela se figura no mundo é objeto dos existencialistas, não se detendo com profundidade em como o próprio ser humano percebe e concebe esse fenômeno. O ponto que separa os existencialistas de Husserl é a questão da subjetividade, as motivações dos atos, onde Husserl se preocupa com essas motivações e os existencialistas com o próprio ato.

É a partir de Heidegger, mas sem voltar-se a Husserl como fez Ponty, que Sartre inaugura sua Ontologia Fenomenológica com O Ser e o Nada, procurando esmiuçar e investigar as reflexões de Heidegger em O Ser e o Tempo.

Merleau-Ponty2Em linhas gerais, por gosto pessoais e filosóficos, fico mais com as definições existencialistas fenomenológicas de Merleau-Ponty; que diz ser a Fenomenologia uma tomada de partido contra o racionalismo quando este se une ao próprio empirismo concatenando um pensamento causal, cujo princípio desencadeia um propósito determinado a um fato ou a um fenômeno.

Por esse pensamento, podemos dizer que a existência para a Fenomenologia se constitui no colocar-se para fora de algo que se torna algo nesse próprio colocar-se para fora, recebendo significados e sentidos na relação que tem com outros existentes, significando-os também. Portanto, existência se torna faticidade, seja lá como teoreticamente seja abordado: se partindo do próprio fato ou se partindo da própria percepção.

Outro ponto que merece destaque em minha concepção, é a questão da Essência. Todo um legado de fundo eleata e pitagórico traz catalisado pelo Platonismo uma precedência de uma essência como determinante da existência. Isto é, a faticidade não se determina a partir de sua própria expressão, e sim é determinada previamente por um sentido independente. Aristóteles, embora una essência e existência na própria faticidade, engessa a expressividade do fenômeno a partir da relação potência e ato. A faticidade seria para ele a atualização de potenciais predeterminados por formas que participam de caminhos próprios separados.

A fenomenologia não parte de pressupostos que determinem a existência em sua expressividade. Ela parte da própria existência considerada faticidade nela mesma e investiga sua figuração sensível significada a partir das motivações e espírito do sujeito. A essência, para a fenomenologia, que é o que ela busca como objeto colocando a existência em parênteses é justamente essas motivações espirituais que a determinam “como” algo existe; faticidade.

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