sexta-feira, 5 de março de 2010

Acaso, Aleatoriedade e Propósito (Parte 2)

Bolas aleatórias Quero crer que os conceitos expressos no artigo anterior tenham ficado claros para continuarmos. Noções como heurística, teleologia e teleonomia são de suma importância para que entendamos não só o processo científico, mas os motivos pelos quais os argumentos criacionistas e de sua vertente pseudocientífica (o Design Inteligente) não se sustentam dentro daquilo que alegam pretender: serem uma alternativa às teorias vigentes e ter o estatuto de conhecimento científico.

Nesse artigo tentarei discorrer sobre a possibilidade da emergência de estruturas complexas cujo Télos se defina dentro do próprio processo e dispensa a necessidade de uma intencionalidade e direcionamento prévios: pilares dos conceitos criacionistas de Complexidade Irredutível e Complexidade Especificada. Esses conceitos, cunhados por seus autores Michael Behe e William A. Dembski respectivamente, trazem como conseqüência (nos argumentos de seus autores) a exclusividade da conclusão lógica de um projetista inteligente para todas as formas de vida.

Minha idéia, assim como de muitos que vêem uma separação heurística fundamental entre fazer ciência e outra atividade qualquer, não vai em direção (insustentável a meu ver) contra a existência nem de Deus e nem da possibilidade de algum tipo de direcionamento ou impulso prévio que manteria ou desenvolvesse a vida dentro de certas restrições. Minha idéia é demonstrar que, mesmo concedendo a possibilidade dos “tedeístas” e criacionistas estarem certos, a forma como eles postulam suas hipóteses não tem sustentabilidade nem científica e nem dentro de seus próprios raciocínios, pois:

1 – Sua heurística se baseia em raciocínios que hiperbolizam suas observações condicionadas por pressupostos não demonstrados e tomados como absolutos e

2 – Seus pressupostos requerem um nível de cognoscibilidade atual impossível, sendo que se eximem de demonstrar sua possibilidade.

Dessa forma, como indicado ainda no artigo anterior, faltará abordar também a própria idéia de Deus como conceito lógico que dispensa qualquer necessidade de atribuição necessária de um propósito próprio, sendo que postulá-lo, significa tão somente atribuir nossos propósitos, carências e desejos em uma idéia que fazemos d’Ele. Seria, sobretudo, inferir que teríamos acesso à Sua natureza, Seus desejos, impulsos e modos de Ser. Isso, sem dúvida, constitui-se em uma arrogância sem tamanho e nada nos garante que tenhamos acesso a esse tipo de conhecimento para postulá-lo. Ou seja, a petição de princípio que fazem para chegar às conclusões que chegam, necessita de algo fora do magistério científico: a fé. Essa parte ficará para a seqüência dessa série de artigos.

 

Processos e Estruturas

processo_estrutura Discutamos um pouco sobre os sentidos atribuídos tanto a “processo” quanto à “estrutura”. Esses sentidos envolvem outros conceitos que podem ser vistos tanto de forma complementar quanto de forma excludente. A postura filosófica em se adotar um ou outro, ou mesmo em se adotar um dos dois como abordagem explicativa terá sempre um aspecto perspectivo, e deverá reunir os argumentos adequados para se sustentar. Nada, porém, excetuando uma observação objetiva em contrário, nos impede de concebê-los correlacionados, concomitantes ou mesmo sucessivos ao invés de excludentes. Ao contrário do pensamento criacionista, estruturas complexas não anulam o gradualismo nem o processo evolutivo, embora Behe afirme que elas só podem ter surgido prontas, acabadas e totalmente funcionais.

Por outro lado, a questão “Tedeísta“ (termo utilizado para designar os adeptos da Teoria do Design Inteligente – diferente, portanto, de “Deísta” ou “Teísta”) envolve afirmações que fogem ao escopo filosófico-científico e se perfazem dentro do escopo mítico-religioso, mesmo com toda retórica criacionista tentando despistar. Uma postulação filosófico-científica, entendamos, embora possa especular sobre instâncias que ainda não possuem confirmação empírica, precisa abrigar em sua estrutura discursiva (heurística) a possibilidade de falseamento empírico.

A questão, portanto, não é verificacionista, é falsificacionista. Sem colocar isso em jogo a especulação é inócua e não atingirá a ciência como conhecimento metodológico. Poderá até ser chamada de especulação filosófica, mas não obedecerá a estrutura racional científica, cuja exigência estrutural é e sempre será em direção da possibilidade de ser refutada a partir de observações físicas.

É possível, portanto, conceber e oferecer elementos refutáveis a uma estrutura complexa, organizada e especializada sem partir do pressuposto que ela seja fruto de uma intencionalidade ou um Télos anterior à sua existência? Em outras palavras, é possível atribuir a um processo aleatório inicialmente a capacidade de se auto-organizar e se tornar complexo e autônomo sem que esse resultado pressuponha fazer parte de um desígnio ou mesmo tenha surgido para cumprir uma função predeterminada?

Ou uma estrutura obedece a um projeto anterior à sua existência, tendo sua existência como meio de cumprir seu propósito e função, ou há possibilidade de um arranjo fortuito tornar-se complexo e especializado, tendo sua função atribuída por um Télos que se faz na decorrência do próprio processo; sem que haja nem um planejamento prévio, nem um resultado esperado determinado.

Heuristicamente não podemos assumir petições de princípios que não sejam hipóteses de trabalhos a serem submetidas a testes refutativos. É esse ponto, justamente, o problema no raciocínio criacionista e tedeísta. Não há, pelo menos a meu ver, qualquer problema em se postular a intencionalidade ou desígnio planejado em um processo ou estrutura complexa qualquer. Há quando essa postulação se constitui em pressuposto e é recusado, dissimuladamente, qualquer teste dessa hipótese.

As razões lógicas que sustentam cada uma dessas idéias e sua possibilidade de refutação empírica nos darão o direcionamento heurístico de nossas considerações. O engajado ideologicamente em uma convicção (seja ela ateísta ou religiosa) escolherá com base nela. O ser humano com postura científica (seja ele crente ou ateu) escolherá com base na sustentabilidade lógica e refutativa das afirmações, independente daquilo que ele alimenta como convicção teorética de fundo. Isso seria possível? Penso que sim. Penso que é isso que acontece na maioria das vezes quando o que está em jogo é uma “metaheurística” que busca a máxima virtuosidade epistêmica.

Destarte não há razão necessária ou suficiente que nos faça admitir como pressuposto o surgimento de algo pronto e acabado sem que tenha passado por etapas para a sua formação. Estruturas, sejam elas complexas e irredutíveis, só o são depois de prontas e na identificação de sua função dentro de outra estrutura, ou seja, dentro de um contexto interno ou externo; contingente. Enquanto não emergem como estrutura, elas são processos e, contextualmente, podem perfazer estruturas diferentes do resultado (também contextual) que identificamos posteriormente.

Vale aqui um trecho do e-mail que enviei ao biólogo Waldemiro Romanha (Ph.D. em biologia celular pela Fiocruz) e articulista do blog Adaptações:

(...) ao pesquisar mais sobre o tema, percebi que, ao menos epistemologicamente, chega a ser redundante falar em complexidade irredutível. Toda complexidade considerada em si própria traz como característica a irredutibilidade. Pois, considerada assim, carrega toda a contingência e imediatismo perspectivo de sua funcionalidade e relação contextual com o ambiente. Isso não significa, porém, que sua formação não possa ser fruto de processos graduais e teleonômicos, embora sua emergência possa ser entendida como pronta e instantânea em certa medida. De qualquer forma, ao contrário dos argumentos criacionistas, uma estrutura complexa está longe de ser prova cabal de uma inteligência teleológica intencional com vistas em um resultado específico.”

Só para encerrar (provisoriamente) essa reflexão sobre processos e estruturas, penso que toda estrutura se dê a partir de um processo. Intuitivamente, porém, quando não vemos ligação entre algo que tomamos pronto e as etapas necessárias para sua “prontidão”, tendemos a postular que ele tenha surgido assim ou tenha sido sempre assim. É na sua emergência, ou seja, em sua percepção a partir de um olhar humano (quando sintetizamos essa percepção em um sentido) é que a estrutura nos parece pronta, acabada e sem vínculo de causalidade com tudo o que confluiu para a sua emergência.

O que parece dificultar o entendimento de que estruturas complexas sejam frutos de um processo é a clara conotação linear e etapista dada ao conceito de processo. Um processo pode ser complexo antes da emersão de uma estrutura. Ele é, sobretudo, dinâmico e interagente com o ambiente e não linearmente causal. Um processo cumpre um télos dentro de sua relação seletiva com o ambiente e desemboca numa estrutura integrada e funcional, ou seja, especificada nos termos de Dembski. Mas conotar um processo por esse viés, embora seja empiricamente possível, é culturalmente contra-intuitivo.

Usei os termos intuitivo e contra-intuitivo porque penso que eles encerrem grande parte da forma como os argumentos criacionistas são construídos. Falemos sobre isso, portanto. Por que o pensamento evolucionista seria contra-intuitivo e o criacionista intuitivo?

 

Intuitivo e Contra-intuitivo como teste

Ao nos depararmos com uma estrutura complexa, que visivelmente cumpre, no estado presente, uma função específica e especializada, é absolutamente intuitivo que façamos referência a um projeto organizado e com um propósito definido. Como nos dizia Protágoras[i]:

o homem é a medida de todas as coisas, daquelas que são enquanto são e das que não são enquanto não são” (GUTHRIE 1995, p. 173).

A suspensão de juízo para o estabelecimento das verdadeiras causas da complexidade parte de uma resistência ao que é intuitivo em favor do que é provável, mesmo que seja para confirmar, a posteriori, o que primeiramente nos disse nossa intuição.

Os conceitos de Complexidade Irredutível ou de Complexidade Especificada são intuitivamente reveladores de um propósito ou planejamento. Não temos como negar. Mas uma postura científica, sem negar essas possibilidades, precisa cunhar os contrapontos possíveis que invalidaria essa noção. Ao afirmá-las somente a partir da intuição, corremos sérios riscos dessa intuição apenas fazer parte de uma simbólica que nos toma como medida da realidade, e não da realidade que possa ser vista além de nossas idiossincrasias.

Cross Cultural

Destarte, tudo indica que a simbólica que determina grande parte de nossas certezas intuitivas, foi formada a partir de tradições e cosmovisões pragmáticas (e mitificadas) de tempos idos. Considerarmos uma participação de instâncias superiores como parte de nossa natureza foi providencial para que não nos sentíssemos demasiados pequenos diante do imponderável e do desconhecido. Nossa insignificância (mais do que intuitiva, mas reforçada dia a dia contra a pressão de um ambiente inóspito – principalmente antes do neolítico) foi a grande responsável por uma megalomania necessária para a resolução dos nossos problemas existenciais ou, ao menos, para nos dar a mínima chance de resolvê-los. Considerarmo-nos filhos de um Pai amoroso que nos reserva o melhor ao final de tantas incertezas e penúrias, foi e sempre será o grande mote que nos fará continuar seguir e manter um passo firme rumo a um objetivo.

Se esse objetivo, no frigir dos ovos, cumpre-se para o benefício de alguns poucos que usam a maioria como instrumento de seus desejos, é uma análise que não pretendo fazer nesse momento, mas não é possível descartá-la. Afinal, quem poderia nos garantir que esse grande Télos não tenha sido construído por forças exclusivamente humanas que detivessem a persistência necessária para angariar o poder que lhe conferisse a possibilidade de impô-lo, garantindo sua sobrevivência a partir da instrumentalização da vida alheia? Se quisermos a verdade é preciso começar a questionar o que temos de mais caro e arraigado em nossa estrutura mental e emocional: conspurcarmo-nos em nossos confortos ao bem da verdade, por mais fugidia e perspectiva que nos seja alcançável. Ou seja, nos permitirmos ser contra-intuitivos também.

Caminhos intuitivos e contra-intuitivos não são tão fáceis de avaliar. Tendemos, naturalmente, a aceitar os intuitivos e os que confirmam alguma necessidade psicológica ou emocional. Estes, longe de mostrar uma naturalidade biológica ou orgânica, mostram-se na maioria das vezes como modelos culturais e valores arraigados que serviram historicamente para o homem se impor ao meio. Mesmo quando orgânicos, partindo da questão evolucionista, mostram-se contextuais e contingentes, incorporados culturalmente a partir de valores que persistem mesmo quando sua gênese orgânica já não justifica sua existência.

intuição Os contra-intuitivos, tal qual dionisiacamente postos, são atos que muitas vezes são condenados pelo establishment e precisam, muito mais do que os intuitivos, cercarem-se de razões e fundamentos muito mais sólidos. A ciência é uma atividade, que embora metodológica e rígida, procura heuristicamente dar espaço a abordagens variadas, exigindo delas o mesmo tratamento para sua validade. Uma coisa dessas, para quem valida subjetivamente suas crenças, é quase uma afronta, pois mexe com cultura, conceitos arraigados e valores caros que, inclusive, são quase impossíveis de alguém negar. Um grande entrave para o tratamento igualitário entre caminhos intuitivos e contra-intuitivos está na essencialização que os caminhos intuitivos sofrem quando são incorporados culturalmente; e geralmente o são.

Não se trata aqui de simplesmente bancar o rebelde e postular o contra pelo contra. Mas sim de, pelo contra, angariar meios de ter certeza da resistência e verdade daquilo que se impõe como realidade intuitiva sem oferecer meios de submissão a testes. Não é um ceticismo pirrônico, mas metodológico.

Pois então, mesmo que intuitivamente sejamos levados a postular que uma complexidade irredutível ou especificada nos leve a um planejamento e a um propósito anterior, como poderíamos testar essas assertivas? Talvez haja um motivo pelo qual tomamos uma estrutura emergente, complexa e irredutível como criada a partir de fora dos processos e contextos de onde ela exista. Esse motivo está justamente na analogia que Behe faz sobre a ratoeira e que, antes dele, William Paley fez com o relógio.

Analisemos as implicações desses raciocínios. É óbvio que tanto o homem que criou a ratoeira quanto o que criou o relógio, antes deles serem realidades passaram por uma idéia de sua funcionalidade e vários testes envolvendo tentativa e erro até que o real se tornou aceitável frente ao que foi intencionado e projetado. Nem mesmo o homem, se quiser fazer uma analogia entre sua criação e uma suposta criação das coisas do mundo, poderá se livrar do gradualismo e do aprimoramento do que faz frente às circunstâncias contextuais da obra criada quando passa a existir.

Mas o que o criacionista faz? Por partir de uma idealização cultural dessa suposta inteligência, considerando-a onisciente e onipotente, não pode admitir que ela “teste” sua criação nem que a melhore a partir de sua existência. Logo, precisa estabelecer Ad Hoc que, necessariamente, ela passe a existir diretamente de sua idéia, como um “puff” metafísico: pronta, acabada e perfeita em toda a sua funcionalidade. Muito mais do que partir de uma analogia despropositada, é preciso que o raciocínio parta de pressupostos cuja verossimilhança esteja calcada única e exclusivamente numa idealização da natureza dessa suposta inteligência, sem possibilidade alguma de testes para saber se ela, ao menos, possa ser assim. Petições de princípio, pura e simplesmente.

protagorasBasta sairmos um pouco da superfície dos pensamentos prontos, tradicionais e confortáveis, que acabamos por constatar que aquilo que nos aparece intuitivamente, na verdade, não é tão intuitivo assim. Pode ser confortável e politicamente conveniente, mas não intuitivo e, muito menos, crítico.

Eu corrigiria o grande Protágoras. Na verdade, nós, homens, somos a medida conveniente (para nós) de todas as coisas; das que são enquanto são e das que não são enquanto não são. Uma frase muito lúcida, mas de uma constatação muito preocupante. Vejo a Ciência, a Arte e, sobretudo, a Filosofia como a tentativa constante de expansão desses limites para além de nossa conveniência, portanto são na maioria das vezes contra-intuitivas e incômodas.

 

Acaso, Aleatoriedade e Propósito

É preciso fazer algumas “correções” nos raciocínios tedeístas e criacionistas. Muito dos argumentos ancoram-se num claro desconhecimento (ou mesmo deturpação por má-intencionalidade) dos fundamentos da Teoria da Evolução de Darwin. Eles, dissimuladamente ou “inocentemente” ficam indignados com o desprezo que, em geral, a comunidade científica lhes confere. Pudera! Como discutir ou dar ouvidos a quem, claramente, desconhece ou deturpa aquilo do qual pretende criticar? Se não conhece ou deturpa o que critica, a probabilidade de estar propondo algo absurdo (deturpado ou sem conhecimento) aumenta substancialmente. Para quê ouvir?

No entanto eles são alertados disso. Mas ao contrário do que se espera (que eles se atualizem e se aprofundem naquilo que pretendem criticar), eles partem para acusações inócuas de teorias de conspiração e complôs ateístas contra Deus e a religião. Pior, levam crédulos a desprezar a ciência e a se fanatizarem por conta desse expediente condenável de obscurantismo proposital.

Um “descuido” recorrente dos tedeístas e criacionistas é contrapor a sua Causa Inteligente ao Acaso. Eles insistem em propagar que a Evolução preconizada por Darwin se dá ao acaso. Aqui vale repetir um trecho dos comentários trocados com minha amiga Paula a partir do artigo Facas, Legumes e Reflexões sobre a Cegueira (fiz ligeiras adaptações nele):

Eu separo conceitualmente acaso e aleatoriedade. Ambos, porém, parecem-me, assim como a Darwin, meras confissões de ignorância[ii]. É pura negatividade e não positividade. Isto é, acaso tem a ver com causa e aleatoriedade tem a ver com padrão e propósito, finalismo. A ignorância do conhecimento de uma causa se chama acaso e o desconhecimento de um padrão recebe o nome de aleatoriedade. Essas palavras não possuem positividade na medida em que preconizam a ausência e não a afirmação de algo. Uma ausência ou uma inexistência é impossível ser provada, não podem nem mesmo ser afirmadas. Elas, quando muito, são probabilística. [ou prováveis] (...)

Assim como algo ao acaso pode ter um padrão de comportamento detectável, algo aleatório pode ter uma causa observável. Algo ao acaso pode ter um finalismo sem propósito ou desígnio, isto é, possamos inferir seu resultado mesmo desconhecendo a causa. No entanto em algo aleatório não é possível prever o resultado, embora possamos ter idéia do que o cause.”

Existem dois pilares na Teoria da Evolução sem os quais ela estaria errada: a Variabilidade gênica espontânea (aleatória) dentro de uma população e a Seleção Natural a ser aplicada nessa variabilidade.

dados A Seleção Natural não age ao acaso, embora aja a partir da aleatoriedade no surgimento de variações dentro de uma população. As causas da variabilidade são muitas, tais que só nos resta dizer que sejam aleatórias, pois reúnem mutação, recombinação e adaptação sem qualquer padrão detectável que possamos extrair uma Lei (ao menos por enquanto). Embora saibamos o que cause a variabilidade, não temos controle algum sobre como essas causas atuam e interagem para proporcioná-la. Ela é, portanto, aleatória. Uma noção da Teoria do Caos e das Teorias da Complexidade ajudaria a entender a emergência de estruturas cuja gênese é aleatória, mas em certo ponto tornam-se teleonômicas; ganham um sentido irredutível.

Mesmo assim nenhum cientista sensato dirá que a Seleção Natural é aleatória nem incausada. Ela desenha e perfaz um projeto. Não é a Seleção Natural que é aleatória, e sim a formação da variabilidade que serve a ela em seu trabalho de construção da diversidade. Os seres, a partir dela, apresentam designs, mas não existe “um” designer; muito menos, inteligente.

Portanto, o design que os criacionistas e os postulantes ao DI detectam na natureza existe, mas nem de longe isso significa que exista um projetista por trás. Nem tampouco significa que não exista, que fique claro, mas cientificamente precisamos de muito mais para afirmar uma existência. A petição de princípio que coloca um Projetista Inteligente como autor desse design é apenas uma crença sem ligação necessária, embora fosse suficiente, para o resultado visível. Quisera que ao menos pudéssemos submetê-la a testes.

Para que os tedeístas e criacionistas possam afirmar a existência de um projetista inteligente por traz da vida e de sua faticidade na terra entra em cena um recurso argumentativo que pretende substituir o empirismo: as analogias utilizadas para exemplificar sistemas complexos irredutíveis como arcabouço retórico que realmente nos faz pensar, mas que sob um olhar crítico acaba por não se sustentar por muito tempo. Como dissemos, Michael Behe usa como ilustração ao seu conceito a famosa “ratoeira”.

O grande problema desse raciocínio é exemplificar algo tomando de antemão a origem conhecida do seu “análogo”. É um bom recurso persuasivo, mas não nos diz muita coisa. No mais poderia ser um reforço, mas não o fundamento do argumento. É extremamente tendencioso recrutar um objeto que sabemos que foi feito a partir de um propósito específico para compará-lo a outro que desconhecemos, e estabelecermos suas origens comuns por suas semelhanças funcionais. O que nos diz que tudo o que expressa alguma funcionalidade específica tenha de ser semelhante à referência que temos? É o que Behe faz. A partir do exemplo da ratoeira ele quer nos fazer crer que o flagelo, um cílios, o sistema coagulatório são complexos irredutivelmente pelos mesmos motivos do exemplo que nos dá. Mas não nos oferece nada além da analogia, ao passo que solicita estatuto científico a ela.

2007033100_ratoeira-tm

Fosse o conhecimento científico estabelecido por analogia jamais sairíamos da idéia de que a Terra fosse centro do Universo, já que intuitivamente nos deparamos cotidianamente com os astros girando em torno de nós. Essa ingenuidade capciosa de Behe vale para sermões em suas paróquias, mas não vale cientificamente. Simples assim.

Uma comparação, uma analogia, serve tão somente para incitar o espírito científico em busca de respostas e não para dar uma resposta definitiva e ser propalada como prova cabal de um conceito científico. Behe e seus correligionários não oferecem qualquer evidência ou teste refutativo para detectarmos um planejamento naquilo que ele afirma ser planejado a partir das analogias que faz.

Ou seja, os tedeístas e criacionistas, além de tentar refutar a TE por meio do desconhecimento de seus princípios básicos, tenta empurrar suas convicções por meio de um insuficiente (embora eficiente para os leigos) raciocínio anti-científico.

Para finalizar este artigo dessa série entendamos melhor o que vem a ser uma Estrutura Complexa.

 

Como é uma Estrutura Complexa?

Entendamos melhor as propriedades de uma estrutura ou sistema complexo. O nome é intuitivo. A palavra deriva de “Complexus”, do latim. Por sua vez, a palavra é composta pelo prefixo “com” (cum, co), designando algo feito em conjunto, concomitante e recíproco; e do radical “plexus”, que significa entrelaçamento. Complexidade é um co-entrelaçamento, portanto: partes que fazem um só conjunto concomitante, recíproco e entrelaçado de único sentido, utilidade ou télos.

Importante pontuar que complexidade não se refere a um entrelaçar onde um ou alguns dos elementos sejam ativos e outros passivos, ou seja, onde há uma direção dada por um dos elementos e os outros, entrelaçados, acompanham ou que, no máximo, influenciem na direção. Um co-entrelaçamento estabelece uma espécie de emergência vetorial onde a direção e sentido se dão pelo próprio entrelaçamento em si, na soma, reciprocidade e potencialização mútua das forças envolvidas na relação estrutura-ambiente.

Eis aqui de onde surge a clara noção de que uma estrutura complexa, quando emerge, é maior do que a simples soma de suas partes isoladas. O co-entrelaçamento confere a cada parte a retroalimentação de sua própria potência, devolvendo-a ao sistema como um todo, em um sentido único, ou unívoco; teleonômico.

REDE DE COMPLEXIDADE O senso-comum conota algo complexo como truncado, difícil de entender, obscuro e/ou complicado. O método cartesiano que preconiza dividir em partes menores um objeto a fim de entender seu funcionamento redunda em fracasso quando aplicado a sistemas e estruturas complexas. Suas partes isoladas, ao contrário da noção metodológica reducionista, dizem pouco ou mesmo nada sobre a estrutura ou o sistema como um todo. Uma imagem ilustrativa que nos faz entender melhor o conceito de complexidade encontra-se no conceito de “rede”, que por não advir de uma causalidade linear, tem como uma de suas propriedades genéticas a aleatoriedade.

A caracterização de um sistema ou estrutura complexa centra-se em alguns elementos básicos que Francis Heylighen[iii] identifica no seguinte trecho de seu artigo Building a Science of Complexity:

Primeiro, chamaríamos de um sistema ‘complexo’ aquele que tem muitas partes ou elementos. Porém uma quantidade [meramente] empilhada não é suficiente [para ilustrar uma complexidade]: nós não veríamos um muro de tijolos [por exemplo] como complexo, embora seja composto por milhares de tijolos diferentes [um do outro]. Além disso, o modo pelo qual os elementos estão agregados deveria dar alguma sensação de desordem ou surpresa, de forma a não ser possível reduzi-lo a um padrão regular ou periódico, como tijolos em uma parede ou moléculas em um cristal. Essa ‘inesperabilidade’ [ou ‘inexpectabilidade’] se torna até mais evidente na dinâmica de um sistema complexo: se nós interagimos com o sistema, ou se ele evolui sozinho, as mudanças que nós experimentamos [ou experienciamos] são imprevisíveis. Além disso, em geral, eles são também irreversíveis. Nós não podemos controlá-lo ou direcionar a evolução do sistema. Daí decorre uma terceira característica básica dos sistemas complexos: a antecipação ou gerenciamento do comportamento de um sistema complexo define um problema que é difícil, senão impossível, de resolver.” (HEYLIGHEN 1988, I - Introduction (essa tradução e as notas entre colchetes são minhas.) [iv]

A idéia de complexidade sistêmica ou estrutural localiza-se entre as idéias propaladas do holismo e do reducionismo. Enquanto o holismo abrigava a consciência de que certos fenômenos não poderiam ser entendidos se reduzidos às suas partes constituintes, o reducionismo abrigava a consciência de que somente nas partes que compõem um fenômeno, ou seja, decompondo-o em suas partes constituintes, é que poderíamos entender o fenômeno como um todo.

Colocando-se entre essas duas perspectivas, a idéia de complexidade corrige dois erros: 1. Um erro holista (que tende a homogeneizar as partes), marcando a diferença e a distinção entre as partes que compõem uma complexidade; 2. Um erro reducionista (que vê refletido na parte o sentido do todo), marcando a conexão interdependente das partes que, isoladas ou retiradas do todo, faz com que seu significado original permaneça e possa ser concatenado linearmente.

Uma estrutura/sistema complexos, resumindo:

1 – Possuem Partes que perfazem um Todo: são compostos de duas ou mais partes entrelaçadas cujo sentido e/ou função perceptíveis só se dão em sua totalidade;

2 – São Irredutíveis: Não são uniformes nem ordenados linearmente em sua constituição interna, formando-se de partes diferentes entre si e muitas vezes de forma caótica. Não é possível, a partir de uma de suas partes, nem entender o todo, nem tampouco dar-lhe funcionalidade.

3 – São imprevisíveis: Dificultam predições e controle, embora obedeçam a uma teleonomia detectável a partir de sua interação com o meio. Ou seja, existe um caminho probabilístico, um sentido.

Com base nessas informações podemos responder as seguintes perguntas com certa propriedade:

1 – É possível uma estrutura ou sistema se tornarem complexos, irredutíveis e especificados por meio de processos gradualmente complexificadores ao longo do tempo?

Sim, mas não em um gradualismo linearmente progressista. A interação do organismo ou órgão ao que lhe circunda e as pressões que recebe, pode “queimar” etapas para a emergência repentina de estruturas que só irão receber, ao longo do tempo, uma “sintonia fina” depois de funcionais a partir de recombinações gênicas e mutações selecionadas. Conforme vimos, uma estrutura complexa é composta de partes que, não necessariamente, convergem em uma causalidade linear a um objetivo prévio. Uma das características dos sistemas complexos é a heterogeneidade de suas partes, podendo as mesmas serem remanescentes de outras funções ou de outros sistemas que teleonomicamente sejam “recrutados” na emergência de novas funções a partir da interação do organismo com seu ambiente.

2 – O que manteria esse télos necessário rumo à complexificação, garantindo a ausência de desvios e a conclusão da funcionalidade do órgão?

As contingências. Como dito, por ser formado por partes heterogêneas, de funções remanescentes diversas e reunidas em uma emergência, não há necessariamente um télos direcionador cuja intenção fosse alguma funcionalidade futura de um órgão. É nesse quesito que a analogia da ratoeira de Behe cai no descrédito. O fato da ratoeira ser um ente isolado cuja existência cumpre um propósito de um agente fora do sistema ou da estrutura maior (casa-comida-rato), remove totalmente a pertinência da analogia. Pois um órgão dentro de um organismo emerge naturalmente a partir de partes que faziam parte de ouras estruturas e existiam antes da estrutura existir.

Essa analogia só teria alguma pertinência se cada parte isolada da ratoeira cumprisse uma função específica dentro da casa ou fizesse parte do sistema casa-comida-rato. A ratoeira é composta de partes exógenas ao sistema que ela ajudará a modificar e que não estavam inseridas no contexto anterior. Por isso precisou de um agente externo, consciente, intencionado e com um objetivo prévio para compor uma re-estruturação no sistema, transformando o sistema anterior (casa-comida-rato) em um novo sistema (casa-comida-ratoeira-rato).

Fosse possível uma analogia onde, desse primeiro sistema, emergisse intencionalmente uma ratoeira (possivelmente a partir de partes do rato, da casa e da comida), poderíamos conjecturar que um agente externo pudesse interferir para a emergência de estruturas diferenciadas.

Flagelo Quando olhamos um flagelo, um cílio, ou o sistema coagulatório (que são os exemplos de complexidades irredutíveis que Behe usa), não vemos sua formação advinda de elementos exógenos ao sistema do qual se agregaram. Aliás, eles não se agregaram e sim emergiram do e no próprio sistema. Quando, ainda, percebemos que partes constituintes do flagelo exerciam funções distintas antes de se tornarem complexos na integração irredutível com outras partes, ou então quando vemos que o sistema coagulatório se constitui como subproduto do sistema imunológico, percebemos que a analogia e os exemplos de Behe caem todos por terra, podendo ser totalmente explicados pela Teoria da Evolução e pelas pesquisas com base nas Teorias de Complexidades Emergentes.

 

Por fim, o Projeto...

Bem... Os conceitos de Complexidade Irredutível e Complexidade Especificada (que podem ser consultados na Wikipédia para uma aproximação melhor) respondem a um apelo intuitivo humano, sem dúvida. Mas postulá-los como “prova” de um Projeto Inteligente, intencional e com surgimento completo e não gradual, vai além de nossa intuição: é estabelecer de forma Ad Hoc uma petição de princípio a qual deveríamos aceitar sem questionamento. Ou seja, o postulado transforma uma inferência intuitiva que poderia até ser uma hipótese heurística de trabalho, em um dogma do qual todo conhecimento devesse se basear, mas cujo respaldo é pura e simplesmente cultural.

Reportemo-nos às mais recentes descobertas e experiências feitas a partir do que, em 1970, ficou conhecido como Teorias da Complexidade. Não vou entrar em detalhes históricos de como essas Teorias surgiram; informação que pode ser procurada na internet. Reportemo-nos à Teoria de Edgar Morin e colaboradores, à Teoria do Caos desenvolvida a partir de Lorenz e, claro, às ótimas considerações do Prêmio Nobel Jacques Monod sobre a irreversibilidade da evolução.

Mesmo que nenhuma delas possa oferecer uma resposta definitiva, oferecem caminhos possíveis e prováveis (ao menos passíveis de ser evidenciados empiricamente). Embora a busca seja sempre por uma resposta satisfatória, e por que não definitiva sim, o que diferencia a busca religiosa da científica é justamente a heurística que se assume desde o início: a religião busca confirmação a uma resposta pronta e dada de antemão, ao passo que a ciência busca refutação das respostas possíveis em busca da que melhor resiste às dúvidas. Os postulados religiosos nascem da certeza e querem confirmação, os postulados filosófico-científicos nascem da dúvida e querem refutação.

25693011_1 Como vimos, a evolução opera sob exigências rigorosas das quais não cabem o acaso, mas trabalha integrada a uma aleatoriedade prévia necessária e suficiente para que ela ocorra. Sem a oferta aleatória de possibilidades múltiplas à disposição do ambiente, espécie alguma poderia evoluir. E é isso que se vê na análise de qualquer população ou nicho ecológico existente. O Télos como sentido, ou mesmo uma função específica, aparecem quando, via Seleção Natural, um caminho de potencial cumulativo direciona as recombinações gênicas e mutações para um determinado fim, sem que esse fim participe de um projeto intencional prévio, mas apenas contingencial (que se perfaz durante seu acontecimento).

Jacques Modos nos diz:

(...) a evolução na biosfera é um processo necessariamente irreversível, que define uma direção no tempo; direção que é a mesma que aquela que impõe a lei de crescimento da entropia, isto é, o segundo princípio da termodinâmica. Não se trata de uma simples comparação. O segundo princípio se funda em considerações estatísticas idênticas às que estabelecem a irreversibilidade da evolução. De fato, é legítimo considerar a irreversibilidade da evolução como uma expressão do segundo princípio da biosfera.” (MONOD 2006, p. 124)

Essa tese dita por Monod em 1970, embora se refira especificamente à irredutibilidade de certo momentum evolutivo tem suas condições de possibilidade confirmadas experimentalmente em 2010 por uma pesquisa de Harvard publicada na Science de 29/01/2010[v]. Na pesquisa foi simulado o comportamento de aglomerações de átomos e moléculas a partir de minúsculas esferas de poliestileno em túneis cilíndricos, microscópicos, com água dentro.

O resultado, surpreendente e contra-intuitivo, demonstrou que a entropia agia nos arranjos possíveis, possibilitando que, ao invés de haver um equilíbrio entre as formas a serem formadas como era esperado (octaedros simétricos e tritetraedros complexos), o tritetraedro resultou 20 vezes mais freqüente que o octaedro.

Esperiência A descoberta também revela o erro do senso-comum em conceituar a entropia como a medida da desordem em um sistema, ou seja, sua homogeneização. Entropia, alerta o cientista, está relacionada com o aumento do número de possibilidades e caminhos diferentes para uma complexificação possível dada pela capacidade auto-regulatória das interações emergentes. Ou seja, a entropia parece ser uma espécie de gargalo onde ao mesmo tempo em que estabelece uma irredutibilidade (como postula Monod), abre campos variados de complexificações novas (confirmado pela pesquisa). Complexificação que, por sua vez, reunindo uma capacidade autônoma de troca de energia, poderá manter-se em um caminho teleonômico próprio sem que seja necessário qualquer projeto intencional prévio.

Se couber aqui uma inteligência atuante no sistema, ela só pode ser especulada a partir de uma programação onipresente e constituinte da própria realidade (espaço-tempo) que torne cada unidade material entrópica na medida da instabilidade ambiental global[vi]. Logo, conjecturando filosoficamente sobre essa possibilidade, não é na irredutibilidade de uma complexidade que reside um planejamento, e sim na própria estrutura da matéria que em determinadas circunstâncias produz uma aleatoriedade utilizável pelas mudanças ambientais. Essa aleatoriedade possibilita ao ambiente produzir novos arranjos, télos e finalidades, sem sombra de dúvida sem qualquer finalidade prévia que não pareça ser a mera permanência da vida, seja lá como for.

Há de se salientar que seria patético postularmos que a Seleção Natural é, então, um designer. Ela produz um desenho ao longo do tempo que nada mais é que o resultado entre uma relação complexa entre ambiente e organismos que interagem e se influenciam mutuamente. Darwin, no Capítulo IV de A Origem das Espécies alerta sobre uma possível confusão que esse termo pode causar, dizendo que no sentido literal o termo Seleção Natural é um termo errôneo. Não se trata de uma entidade nem de uma força, mas simplesmente de um resultado emergente de uma relação recíproca entre organismo e meio que recebe, metaforicamente, o referido nome designativo:

No sentido literal da palavra, não há dúvida que o termo seleção natural é um termo errôneo; mas, quem tem criticado os químicos, por que se servem do termo afinidade eletiva falando dos diferentes elementos? Contudo,

não pode dizer-se, estritamente falando, que o ácido escolhesse a base com a qual se combina de preferência. Diz-se que falo da seleção natural como de uma potência ativa ou divina; mas quem critica um autor quando fala da atração ou gravitação, como regendo o movimento dos planetas? Todos sabem o que significam, o que querem exprimir estas expressões metafóricas necessárias à clareza da discussão.” (DARWIN s.d., p. 99)

Por sua vez, como já mencionei, Behe afirma enfaticamente que existem estruturas complexas que nos remetem à impossibilidade do gradualismo, pois só conferem a utilidade e funcionalidade que possuem a partir de sua formação total, pronta, sem a qual nenhuma das partes isoladas ou mesmo em um estágio supostamente anterior, jamais seria atingida.

Desse argumento ele tira duas conclusões: 1. Elas só podem ter sido feitas de uma só vez e não gradualmente e cumulativamente e 2. Elas só podem ter sido feitas por uma inteligência que tinha um propósito final específico para ela (que comporia, talvez, um plano geral também determinado).

Vimos, no entanto, que é possível surgir de forma aleatória e gradual uma complexidade. Sua irredutibilidade, porém, mesmo trazendo a questão entrópica a favor, precisa de mais argumentos. Demonstramos como essa complexidade se tornaria irredutível se ela for produzida gradual e cumulativamente. E, sobretudo, levando em conta o argumento de Behe, como se daria a funcionalidade específica em um determinado momento se em um T-1, ou considerando a complexidade em suas partes isoladas, essa funcionalidade não existia.

Está claro que nosso argumento centra-se numa explicação teleológica funcional e não intencional. Se há um télos direcionador para a complexificação irredutível de um organismo, órgão ou sistema, esse télos cumpre um direcionamento para uma funcionalidade impulsionado pelas vantagens competitivas ou facilidades na integração do órgão e/ou do organismo a todo um sistema maior que o abarca. O que temos a nosso favor em relação a essa idéia se pauta nas teorias de complexidade, que postulam um direcionamento dinâmico determinado pela interação das partes envolvidas. A idéia da auto-regulação, ou do todo ser maior que a mera soma das partes, fazem parte do apoio epistemológico que temos.

O argumento teleológico dos tedeístas e criacionistas, por sua vez, embora afirme que seja por observação empírica, baseia-se em uma evidência intuitiva, eivada culturalmente pela simbólica mítico-religiosa: tradição e cultura estão como pano de fundo de suas assertivas. Mas claro, não adianta apenas apontar a insustentabilidade do argumento alheio, mas oferecer um que epistemicamente seja mais virtuoso.

É, portanto, um debate entre a validade biológica observável de uma causalidade eficiente contra uma causalidade final[vii] a partir de uma intencionalidade consciente e prévia, independente de seu aspecto intuitivo. Antes, é questionar também se caso seja possível postular uma Causa Final, cumprindo uma função, se ela pode ser fruto da Causa Eficiente e interagir com ela, formando uma complexidade que se tornaria irredutível.

A idéia de que o todo é maior do que a soma das partes, a partir de uma funcionalidade estabelecida, parece ser plausível para descartar a idéia de um propósito prévio ao devir evolucionário.

São muitas informações, eu sei, mas a série ainda não acabou. Aceito sugestões, críticas e comentários. Espero terminar no próximo artigo, embora sei que seja vasto e talvez infinitas as considerações que podem ser feitas.

 

 

Bibliografia

ARISTÓTELES. Metafísica. 1ª Edição. Tradução: Edson Bini. Bauro, SP: Edipro, 2006.

BINI, Edson. “Prefácio.” In: Metafísica, por ARISTÓTELES, tradução: Edson Bini, 12. Bauro, SP: Edipro, 2006.

DARWIN, Charles. A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural. Tradução: André Campos Mesquita. Vol. I. São Paulo, SP: Editora Escala.

GUTHRIE, W. K. C. Os Sofistas. Tradução: João Rezende Costa. São Paulo, SP: Paullus, 1995.

HEYLIGHEN, Francis (1988). BUILDING A SCIENCE OF COMPLEXITY Principia Cybernetica Web (Principia Cybernetica, Brussels) Edição: C. Joslyn and V. Turchin F. Heylighen. 1988. http://pespmc1.vub.ac.be/Papers/BuildingComplexity.html (acesso em Fevereiro de 2010). 

Meng, G., Arkus, N., Brenner, M., & Manoharan, V. (2010). The Free-Energy Landscape of Clusters of Attractive Hard Spheres Science, 327 (5965), 560-563 DOI: 10.1126/science.1181263

MONOD, Jacques. O Acaso e a Necessidade. 6ª Edição. Tradução: Bruno Palma e Pedro Paulo de S. Madureira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

REALE, Giovanni, e Dario Antiseri. História da Filosofia - Antiguidade e Idade Média. Vol. I. de III vols. São Paulo, SP: Paullus, 1990.

STEBBINS, George Ledyard. Processos de Evolução Orgânica. 2ª Edição. Tradução: Sérgio de Almeida Rodrigues e Paulo Roberto Rodrigues. São Paulo, SP: Editora da Universidade de São Paulo, 1974.

 
 
 

Notas

[i] A doutrina do Homem como Medida de Protágoras coloca a humanidade como construtora dos sentidos daquilo que percebe e necessita em seu relacionamento com o mundo e as coisas. Expressa na obra Verdade, a existência dessa frase em Protágoras se atesta nas obras de Platão (por exemplo no Teeteto), Aristóteles e de Sexto (GUTHRIE 1995, p. 173). Porém, analisam sob seus próprios critérios e medidas, dando-lhe os sentidos que a torna útil para seus próprios propósitos. Ou seja, por mais que não concordem, fazem exatamente o que Protágoras afirma: tornam-se medida para a realidade e verdadeiro sentido de uma frase que somente o autor poderia afirmar qual seria: toda interpretação é uma construção do real.

Destarte e apesar disso, essa frase continua enigmática. A palavra grega metron (medida), explicada tanto por Platão quanto por Sexto como kriterion (critério), poderia mudar totalmente o sentido da frase, embora GUTHRIE afirme não termos razão para duvidar que ambos tenham acertado. Medida, porém, pode estar relacionada ao limite da percepção da realidade, conferindo ao Homem (em seu sentido coletivo como humanidade), definir os limites da realidade dentro de uma simbólica vigente; conceito que muitas análises dão conta de aproximá-lo do LOGOS de Heráclito.

Esse conceito pragmático de medida das coisas e que define a realidade e a verdade, embora idealmente não gostemos de acreditar, tem sua materialidade inegável numa simples observação da dinâmica humana. Somos e nos constituímos coletivamente na medida dos limites da percepção do que tomamos como real e a partir de uma simbólica que constrói um sentido para o mundo. Só podemos postular que exista uma verdade além da humana, se postularmos a humanidade com potencial de se desprender de si mesma, tendo parte de sua natureza conferida a uma medida sobre-humana, quiçá divina. Essa idéia presente nos mitos de Prometeu, que rouba o fogo dos céus para dar aos homens, além dos mitos órficos da natureza dupla humana (divina e titânica), dará conta da noção dualista que postula a possibilidade do homem saber sobre a Verdade além de sua estrutura simbólica e material: uma verdade além de todo posicionamento contextual e contingencial que sua condição exclusivamente humana o limita.

Portanto, fruto de uma idealização especulativa ou baseada em mitos, a idéia de que o Homem possa atingir uma Verdade além e mais Real que sua condição humana possa lhe conferir, está como pano de fundo de toda concepção racionalista. É notável que o cristianismo comungue dessa noção não só pelo sincretismo que promove com o paganismo grego platônico em sua formação, mas pela própria mitologia judaica, definindo-nos como uma centelha divina encarnada: o verbo, ou espírito, sopro.

Só uma noção cosmovisionária dessa daria conta de pressupor um desígnio como conseqüência lógica de uma estrutura complexa. E para isso, mesmo discordando de Protágoras, fazem exatamente o que ele afirmou: transformam-nos em medida das coisas a partir de nossas crenças, necessidades e tradução simbólica do sentido do mundo.

[ii] Darwin rejeita o “acaso” como explicação das variações existentes dentro das populações no seguinte trecho:

“Até aqui falei algumas vezes como se as variações, tão comuns nos seres orgânicos em ambiente doméstico, e em menor grau nos que se acham em estado natural, fossem devidas ao acaso. Isto, certamente, é uma expressão completamente incorreta, mas serve para confessar francamente nossa ignorância das causas de cada variação particular.” (DARWIN s.d., Cap. V. p. 153)

Ele, assim como eu, considera a palavra como mera confissão de ignorância das causas envolvidas em um processo ou resultado, mas jamais como petição de princípio de uma incausalidade. No caso da variabilidade, evoquemos o conceito de complexidade como causa eficiente conjunta de fenômenos fontes como: mutação, recombinação gênica, adaptação e seleção sexual em várias gerações sucessivas, conforme nos diz Stebbins. (STEBBINS 1974, p. 43)

[iii] Francis Heylighen é professor pesquisador da Universidade Livre de Bruxelas (Free University of Brussels) e coordena o grupo de pesquisa transdisciplinar para Evolução, Complexidade e Cognição, filiado ao departamento de Filosofia.

[iv] O texto original em inglês é:

First, we would call a system "complex" it is has many parts or elements. However, sheer quantity is not sufficient : we would not see a brick wall as being complex, even though it is composed of thousands of different bricks. Moreover, the way the elements are aggregated should be in some sense disordered or unexpected, it should not be reducible to a regular, periodic pattern, like the bricks in a wall or the molecules in a cristal. This "unexpectedness" becomes even more apparent in the dynamics of the complex system : if we interact with the system, or if it evolves on its own, the changes which we experience are unpredictable. Moreover, they are in general also irreversible. We cannot control or steer the evolution of the system. This entails a third basic feature of complex systems: the anticipation or management of a complex systems behaviour defines a problem which is difficult, if not impossible, to solve.” (HEYLIGHEN 1988, I - Introduction)

[v] O resumo do artigo pode ser lido gratuitamente no site da Science em The Free-Energy Landscape of Clusters of Attractive Hard Spheres:

The study of clusters has provided a tangible link between local geometry and bulk condensed matter, but experiments have not yet systematically explored the thermodynamics of the smallest clusters. Here we present experimental measurements of the structures and free energies of colloidal clusters in which the particles act as hard spheres with short-range attractions. We found that highly symmetric clusters are strongly suppressed by rotational entropy, whereas the most stable clusters have anharmonic vibrational modes or extra bonds. Many of these clusters are subsets of close-packed lattices. As the number of particles increases from 6 to 10, we observe the emergence of a complex free-energy landscape with a small number of ground states and many local minima.”

[vi] Essa idéia se encontra na Teoria de Gaia de James Lovelock, mas que no presente estudo evito mencioná-la ou tomá-la como referência devido a críticas que faço a ela em relação à hipótese homeostática que, a meu ver, a torna tautológica. Porém, em seus argumentos secundários, a postulação de estruturas complexas emergentes parece cumprir as exigências heurísticas científicas.

[vii] Causalidades – Teoria das Quatro Causas de Aristóteles. Vale salientar aqui que a palavra “Metafísica”, pela qual ficou conhecida uma das obras de Aristóteles onde consta essa Teoria, refere-se aos escritos do estagirita organizado por Andrônico de Rodes no ano 50 d.C. que, por mero seqüenciamento, classificaram-se após os escritos de Física. Nada, porém, a ver com a intenção de direcionar seu conteúdo à tentativa religiosa de aproximar a filosofia grega à teologia cristã. A manipulação, da qual nos fala no prefácio o tradutor da edição da EDIPRO, não está somente em seu conteúdo, mas no próprio sentido que o nome dado tomou ao longo do tempo. Bini nos diz:

“(...) não devemos esquecer que a Metafísica foi a obra aristotélica mais ‘manipulada’ (em todas as acepções desta palavra) durante mais de um milênio a partir do primeiro século da era cristã.” (Bini 2006, p. 12)

O que se nota é que o termo Metafísica significou, a partir da apropriação da igreja dos escritos de Aristóteles, a confirmação de uma Causa Final teleológica que corroborasse e, de acordo com a política tertuliana, conciliasse a filosofia grega com a teologia cristã, não importando o quanto fosse necessário descaracterizar o pensamento original do estagirita. Não sejamos ingênuos em pensar, muito menos em postular, que não exista elementos no pensamento de Aristóteles que se encaixem como uma luva às intenções teleológicas, escatológicas e soteriológicas cristãs. Mas não podemos ficar indiferentes à manipulação evidente que encobriu dissimuladamente os pontos divergentes ou que pudessem ser usados contra os dogmas religiosos.

De qualquer forma Aristóteles nunca usou o termo “Metafísica”. Ele fala nos livros que compõe o que foi reunido sobre esse nome em Filosofia Primeira, ou Filosofia das Causas Primeiras, e dentre ela destaca a existência de uma causa eficiente, que cumpre uma teleologia própria, digamos teleonômica, mesmo que em seu pensamento ela esteja inserida numa teleologia maior a partir do que chamou de Motor Imóvel ou Ato Puro (que engendra uma causa final ou propósito ao mundo).

Por Causa Eficiente Aristóteles quis discorrer sobre aquilo de que provém a mudança e o vir-a-ser (devir). Ou seja, leis de causalidade que explicassem a mudança e a transformação. Se essas mudanças compusessem um propósito, o estudo desse propósito entraria na questão da Causa Final e não da Eficiente.

O que vale para nosso presente estudo é postular que, independente de uma Causa Final, um propósito ou um desígnio, há uma Causa Eficiente que dispensa um determinismo anterior à sua atualização e processo constitutivo, e tampouco necessita de um agente externo para direcioná-la e/ou formá-la. Se houver um propósito cósmico universal ou um télos globalizado, sua atuação não se dá na singularidade como nos preconiza Behe e seus correligionários. Quiçá se dê de alguma forma: é preciso muito mais do que Aristóteles nos deixou para assumirmos essa teleologia sem partirmos de pressupostos que não se submetem à falseabilidades.

Mas vamos mais fundo nisso, mesmo dentro das limitações desse estudo. Se Causa Final diz respeito, ainda recorrendo a Aristóteles, a “um fim ou a um objetivo para qual tende o devir do homem” (REALE e Antiseri 1990, p. 181), esse fim, funcionalidade ou objetivo em nada nos indica (se não aceitarmos os pressupostos aristotélicos – polêmicos e repletos de petições de princípios) que não possam ser dados ou configurados no próprio devir, na própria eficiência do vir-a-ser; dando como resultado não uma relação de necessidade, mas meramente de suficiência.

Essa relação de suficiência poderia, então, “puxar” a teleonomia do processo a uma irredutibilidade? Penso que isso dependa da relação entre ambos e quais utilidades que o resultado pode conferir ao próprio processo, tornando-os indissociáveis e irredutivelmente complexos. A questão, sobretudo, é a rejeição, por motivos óbvios de sua insuficiência, de uma causação linear a favor de uma causação complexa e contingente.

3 comentários:

ana disse...

Não tenho todo este discernimento do Miranda, e todo estes nexos acrobáticos que ele costuma fazer, me entusiasmam!
Criacionismo X Evolucionismo... não existe porque
enquanto se pode propor a falseabilidade da T.E. confrontando- a com inúmeros fatos empíricos, os criacionistas insistem em uma vaga retórica. Dizem seguir o modelo popperiano para atacar a evolução, mas eles mesmo não sabem e nem podem aplicar a falseabilidade em suas teorias. Se podem confutar hipóteses cientificas, mas num sistema no qual não existem confutaçoes, não existe ciência, e sim dogmas.
No mais, apesar de bastante heterogêneo, o criacionismo è um subproduto sócio cultural americano. Um subproduto da direita evangélica que gostaria de minar as políticas de conquistas de direito civil e, trazer aquele “chauvinismo” sempre latente.

Entao, passaria horas por aqui trocando umas figurinhas , mas deixo algumas resumidas considerações.

Acaso , aleatoriedade, propósito, seleção natural e outras “coisitas mas” ...

A complexidade da natureza,
de uma certa maneira, como disse Gould, nos associamos as nossas esperanças de um progresso linear na natureza com uma explicação cientifica bem adaptada aos sistemas simples como acontece no reducionismo da tradição mecanicista cartesiana. E transferimos esta convicção de que a complexidade possa ser também decomposta nos átomos que produzem os fenômenos ao longo de uma corrente de causas lineares que são reguladas pelas leis naturais . Funcionou? Sim, funcionou, mas para os sistemas complexos parece que esta chegando num beco sem saída

ana disse...

Os que defendem o DI e insistem na complexidade irredutível, insistem no erro de inferir uma origem histórica da utilidade atual, que se evidencia no modo “melhor” , esquecendo que muitas, senão todas as estruturas biológicas foram cooptadas da uso precedentemente diferentes, não projetados objetivando o funcionamento atual... mas vai fazer eles entender isto :)

Quanto a complexidade especificada de Dembski, me parece um outro equivoco...
aqueles calculos de probabilidades ..??
como è que se faz para calcular hoje a probabilidade do surgimento do olho, ou de uma proteina???
Do que percebi, Dembski parte do pressuposto de que os conceitos fundamentais da ciência biológica podem ser “provados” ou “ "desmentido" matematicamente.
Acho difícil que um teorema matemático ou equação possa "provar" ou "refutar" qualquer coisa além de uma relação lógica entre uma premissa e uma conclusão. Mas se uma premissa é falsa, independentemente do grau de sofisticação dos algoritmos, a conclusão será também falsa.
A biologia evolutiva é uma ciência experimental e os mecanismos darwinista de evolução se apóiam em imenso material empírico, como já disse antes.

Existe uma aparente contradição entre teleonomia e a objetividade postulada no método cientifico?
Todos os organismos se modificam e evoluem interagindo com o ambiente circundante; e a continua geração de indivíduos variantes.

Assim, cada programa genético è o produto do acaso ( mutações e variabilidades) e da seleção natural . O “Acaso e a Necessidade” que Monod se referia.
E sò assim, penso que poderemos admitir a teleonomia, neste trilho da dicotomia, não como propriedade primitiva

Já as considerações teleologicas sobre a evoluçao poderemos descartar.Talvez elas sejam muito mais uma herança do nosso insistente “antropomorfismo” em relação aos fenômenos naturais , ou a uma teologia natural “profundamente associada à
admissão de uma providência divina, a qual teria desenvolvido cada
característica animal para desempenhar uma determinada função na criação”(Mayr)
Não há nenhuma tendência na natureza para o progresso ou para a perfeição. Quaisquer mudanças observadas no curso da história do mundo, são os resultados da ação de leis naturais, da seleção natural, interações, contingencias , desejos, necessidades...

Por ultimo,
Eu sou da opinião que a evoluçao talvez seja fruto muito mais da casualidade do que da seleçao natural, mas isto seria um debate mais exclusivo pra os evolucionistas, deixando os “crias” de fora :)

Gilberto Miranda Jr. disse...

Nexos acrobáticos, Aninha? Kkkkk Puxa... Mas é justamente a falta de discernimento que me proporciona isso kkkkk

Concordo com você querida amiga. Ao menos não “deveria” existir um porque para Criacionismo X Evolucionismo. Nem de longe o que está em jogo na Teoria da Evolução se confronta com o que está em jogo com o Criacionismo. Talvez nem resvale. Mas a onipotência arrogada das crenças religiosas por trás do mito criacionista insiste em trazer para si a ciência e a atividade científica como um todo. E com isso deturpa, desinforma e tira do homem a responsabilidade de construção de seu futuro, deixando tudo à mão de um suposto desígnio a ser interpretado por autoridades para lá de duvidosas.

O uso de Popper então é algo muito obscuro. Por uma declaração inicial dele sobre uma possível tautologia na TE (sem se importarem com a retração pública em Cambridge que fez anos depois) os criacionistas repetem a velha tática de apelo a autoridade e de repetição de uma inverdade até que, por costume, a tomem por verdade.

A relação (nexo nada acrobático RS) que você faz entre o projeto político por trás das táticas criacionistas é perfeita. Penso assim também.

Você diz: “Não há nenhuma tendência na natureza para o progresso ou para a perfeição. Quaisquer mudanças observadas no curso da história do mundo, são os resultados da ação de leis naturais, da seleção natural, interações, contingencias , desejos, necessidades...”

Puxa, fantástico. Diria que se houver uma tendência, ela não é prévia, mas sim se dá na própria dinâmica relacional e se traduz na otimização crescente direcionada teleonomicamente. Há um algoritmo feito com base nos princípios da TE que está revolucionando a indústria na regulagem de motores. Não só o desgaste, mas a economia com aumento de potência é algo sem precedentes. Mas é claro, nem isso pode provar nada, pois basta um criacionista saber que o homem é capaz de fazer para meter um projetista na história rsrsrsrs.

Ahhh e do outro debate que você menciona, adoraria participar RS...

Abraços, querida...

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