sábado, 23 de outubro de 2010

Diálogos sobre Justificação

figura_01 Do Blog de um colega do Orkut (leia em Investigação Filosófica) foi afirmado que qualquer justificação de P teria que trazer como conceito a impossibilidade de não-P. Esse, sem dúvida, seria o melhor dos mundos e nas ciências naturais é muito provável que encontremos inúmeros exemplos desse tipo de justificação. Inclusive penso que o falseamento popperiano traz em seu bojo esse conceito desde que Popper se virou contra o positivismo. Porém Popper foi mais prudente, pois não precisamos “provar” nem demonstrar a impossibilidade de não-P. Basta que deixemos em aberto que se não-P existe, então P é falso. Pronto, estabelecemos com isso uma verdade provisória da afirmação de P. Penso que seja um critério mais lógico e possível que o do Rodrigo Cid.

O cerne da discussão parece-me ser a questão do que torna uma afirmação uma verdade indubitável. Não uma possibilidade de verdade, mas sim uma verdade total, diria até absoluta. Mas o que dá para concordar com o que foi dito?

Infelizmente a realidade não é tão “preto no branco” assim. Tudo seria mais fácil se fosse e por “precisar” ser mais fácil para uma maior previsibilidade, o ser humano foi pródigo em determinar que o mundo fosse sim “preto no branco” (e isso aconteceu até na esfera racial). Parece que assisto apenas uma inversão do positivismo, onde sua negação traz os mesmos vícios que o tornou o que é. É um paradoxo absolutista.

Em suma, se P só pode ser justificado pela impossibilidade de não-P, em tese poderíamos dispensar as razões de P existir? Percebem as conseqüências disso? Ou seja, posso justificar qualquer sandice desde que demonstre e justifique que a não-sandice seja impossível. Soa-me estranho, confesso. Pode até ser que eu não esteja alcançando o nível de raciocínio dos membros do Blog, mas soa-me realmente estranho.

Meu professor e mestre Grego sempre me disse que os franceses viviam em cima do muro RS... Que filosofia mesmo era alemã e inglesa (e americana com o pragmatismo). Eu, como sou promíscuo, embora considere cada palavra iluminada de meu mestre, sempre tive admiração pelos franceses, justamente por esse fato que ele mesmo os criticava. Vejo a filosofia francesa como a que mais se encrava no mundo para dizer algo sobre a verdade, porém eles sempre falam em “possibilidade de verdade”, nunca nela. Não adianta idealizar o que é a verdade se na prática é inalcançável essa idealização.

Quando se joga a linguagem nesse angu fica ainda pior. Toda justificativa da impossibilidade de não-P passa por uma prova de negação, que é impossível. Como “provar” uma negação? Precisaríamos da eternidade para justificar a impossibilidade de não-P, ao passo que ela, popperianamente, poderia apenas ser um critério de falsidade para P. P, por sua vez, precisa justificar a si próprio numa objetividade que leva em conta a simbólica em que está inserido.

Ou seja, é impossível sair de cima do muro. A única coisa que podemos dizer da verdade é que ela é verdade agora, sob as circunstâncias e perspectivas das quais ela é aceita em consenso.

Por outro lado a crítica dirigida à metodologia citada pelo Rodrigo Cid eu também não concordo. Uma sentença metodológica pode ser válida ou inválida, mas nunca verdadeira ou falsa. O fato da sentença não justificar a ela mesma também não a torna inválida, porém só a torna válida satisfazendo certas condições, portanto seria preciso demonstrar que seja impossível conhecer a verdade sem ela e o Rodrigo Cid não consegue essa proeza a meu ver.

Interessante isso... Vou me abster de comentar o restante, mas estou acompanhando a discussão...

0 comentários:

Postar um comentário

Aqui você terá o direito de opinar, comentar, fazer uma crítida, dar uma sugestão ou escrever o que você quiser, desde que mantenha um nível de civilidade e não ofenda ao autor ou a outro comentarista. Os comentários serão respondidos aqui mesmo... Obrigado pela visita...