segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Saber Científico e a Gripe Suína

porco_leitor Tenho acompanhado os ótimos posts do Osame Kinouchi (já sou fã dele) em seu ótimo blog SEMCIÊNCIA, mas liguei o computador hoje com uma sensação realmente ruim ao ver a notícia da Folha On Line de que os “Casos confirmados de gripe suína saltam para 898 em 18 países”.

Há quatro dias atrás, quando a gripe atingia apenas 1/4 do número de casos no mundo, Osame alertou no Roda de Ciências sobre o descaso que os blogueiros científicos estavam dando ao assunto. Desde que ela surgiu, inclusive associada à gripe aviária, me vi pensando sobre o assunto e tentando inferir meios de entender melhor os desdobramentos disso filosoficamente.

Coincidentemente, na semana em que os casos se tornaram mais alarmantes, eu fui com minha família ao posto de saúde de minha cidade para tomar a vacina anual contra gripe que a prefeitura oferece gratuitamente.

Essa é uma prática comum e mais de 150 milhões de pessoas no mundo se beneficiam da vacina que funciona basicamente pela inoculação de um vírus inativado que precipita o nosso sistema imunológico preparando-o para o caso de uma gripe real nos infectar. A cada ano é feita uma nova vacina, pois o vírus Influenza sofre mutações constantes e uma série de Grupos Regionais de Observação de Gripe (GROGs) sistematiza a coleta de informações para que a OMS (Organização Mundial de Saúde) forme as bases de elaboração da próxima vacina.

Para saber mais, consulte: Vacina.

Bem, o sistema funciona. Porém nos aponta numa direção estranha e que é foco do que escrevo nesse artigo, inclusive indo por outro caminho daquele analisado por Osame em seus posts nos Blogs onde participa.

Osame foca sua análise nas condições de acondicionamento próprias da produção de carne em escala industrial, o que não deixa de ser um dado relevante na busca de explicação dos motivos que trouxeram esse vírus tão perigoso às manchetes do mundo inteiro. Explica, parece-me, a capacidade assustadora de alastre do vírus, mas não explica como ele se tornou tão potente e prejudicial aos humanos.

O presente artigo possui dois focos básicos: uma breve análise sobre a questão demarcatória entre conhecimento científico, não-científico e pseudocientífico e uma tentativa de explicação dos motivos pelos quais o poder adaptativo do vírus se direciona para um poder cada vez mais avassalador e letal, levando em conta a Teoria da Evolução de Darwin.

O fundo da questão demarcatória está na troca de comentários entre eu e o Osame sobre meu artigo que atribui à ciência a questão tecnológica. O fundo da questão teorética da capacidade letal e mutacional do vírus está na tentativa de aprofundar-me nos desdobramentos possíveis da Teoria da Evolução de Darwin, e também levanta um questionamento sobre o uso tecnológico do conhecimento científico no sistema capitalista.

A Questão Demarcatória (Cientificidade e Tecnologia)

Torah_(2) Pensando sobre a questão judaica da proibição do consumo de carne de porco, é irresistível pensar em como nós, céticos, atribuímos à tradição religiosa as mais inverossímeis fantasias explicativas para as coisas. Pensar que a proibição de carne de porco tomada pela tradição judaica pode ser classificada como pseudociência só faz sentido (pela própria demarcação sugerida pelo Osame) se essa tradição, frente à epidemia que se avizinha, traga como proposição uma suposta cientificidade por traz da prática, e por conseguinte, a proposta de que a existência de Deus possa ser deduzida logicamente desse fato. É claro que não estamos fazendo isso, nem tampouco dizendo que alguém o fez, mas conjecturemos que sim para efeito de análise.

O que então, separaria a verossimilhança de uma explicação tida como pseudocientífica de outra explicação qualquer, mesmo as postuladas pelos usos e costumes tradicionais religiosos? O que então, além da questão de pseudociência e ciência, enquadraria um conhecimento como científico ou não? O conhecimento científico, eleito o mais seguro, anularia todos os outros, ou haveria outro tipo de conhecimento, também seguro, fora do científico?

Existe como contraponto a explicação científica que atribui ao mau acondicionamento e condições de abate do animal o risco de contaminação por diversas doenças. Essa é uma questão de higiene e possui por traz uma saber teórico corroborado pelo controle e desenvolvimento de técnicas que, supostamente, anulariam esse efeito nocivo, possibilitando a criação em larga escala e seu consumo sem oferecer mal a nós, humanos. É considerado científico por que promove um saber técnico, portanto prático, que controla, manipula e reproduz aquilo que prediz, podendo ser corroborado empiricamente.

moises Mas olhemos com os olhos de 1.500 a.C. onde supostamente teria vivido Moisés e onde se começou a decodificar os costumes hebreus (que mais tarde com a tradição grega nos fundaria como civilização Ocidental). Lembro que somente mil anos depois é que teríamos evidências do surgimento de um novo campo de saber, o teórico, iniciado por Tales em Mileto.

Até então, as grandes civilizações e nações que povoaram a história tinham circunscritos em seus saberes técnicas e costumes que traduziam um conhecimento prático que era reproduzido porque dava certo. Era esse o critério vigente, e segundo a forma que classificamos, não era científico.

Antropologicamente os anciãos, os líderes, e/ou cúpula político-administrativa do grupo social era quem guardava esses saberes e legislava com base neles, estabelecendo a moral vigente. As práticas que se mostravam propícias e funcionavam, emergindo espontaneamente das próprias relações sociais, eram guardadas e preservadas por essa cúpula, transformando-as em leis e costumes a serem seguidos. E como emergiam espontaneamente do seio das relações sociais entre os membros, eram práticas já introjetadas em sua moralidade.

Por uma questão até de um olhar privilegiado, por fora do cotidiano, portanto teorético (do grego Theoria = contemplação), os legisladores e membros da cúpula podiam perceber e fazer associações sobre casos em que a causalidade parecia verossímil, mas que as pessoas inseridas no processo não veriam. Com isso, o saber, que nessa época já poderia ser teorético, teria que ser imposto por outros argumentos que melhor traduzissem a urgência de medidas rápidas de resolução.

porco1 Fico imaginando um povo vagando à esmo no deserto, desesperançado e faminto, passando toda a sorte de privações e provações, preferindo até voltar a ser cativo no Egito do que viver com a promessa de uma Terra Santa, ouvir de um legislador que não pega no batente que a partir daquele momento o alimento mais acessível, fácil de criar e abundante não deveria mais ser consumido: o porco.

Muito provavelmente esse olhar privilegiado e contemplativo do legislador associou o consumo da carne suína a diversos males, inclusive óbitos de parte das pessoas que estavam sob sua tutela. Era seu dever, por via das dúvidas, tomar as decisões cabíveis para que isso cessasse e não se alastrasse. Associação feita (hipotética), cabia-lhe a aplicação prática para que a empírea a corroborasse ou não.

Infelizmente a bíblia não nos narra se houve algum grupo de controle promovido por Moisés, isolando alguns membros em pelo menos dois grupos para que um continuasse a comer porco e outro se abstivesse da iguaria. A questão é que o saber indutivo é de tentativa e erro, bem ao sabor do que Popper nos lega em seus escritos pós 1.960. A tentativa foi feita; proibiu-se e pronto.

Mas como conseguir que essa proibição fosse levada à cabo? Desobedientes, desorientados, dispersos, rebelados, famintos e desesperançados os hebreus estavam até adorando ídolos, sem coesão, pressionados por todos os outros povos em seu destino errante e malogrado. Era uma questão de sobrevivência a elaboração de um guia de justiça social e moralidade comum a ser obedecido radicalmente por todos. É claro que aqui estamos reduzindo tudo ao recorte que escolhemos, que é o consumo da carne suína, mas parece-me que à época, esse era apenas mais um dos problemas enfrentados.

Não é difícil de imaginar, como legislador e líder, numa situação crítica, marcial e de urgência, que Moisés usasse o que tinha em mãos para fazer valer o bom senso e não degringolar tudo aquilo que ele tinha reunido com esforços hercúleos.

Não vou entrar no mérito aqui se Deus falou com Moisés ou não, se Moisés existiu mesmo ou não, ou se algum outro patriarca fez o que foi atribuído a ele para que as coisas andassem da melhor maneira possível. Poderíamos até conjecturar que a própria idéia do monoteísmo teria respaldo na necessidade de se centralizar o poder decisório no intuito de promover um tempo de resposta adequado às urgências dos fatos. O fato é que no fim das contas deu certo. Não só em relação ao porco, mas em relação a muitos costumes que nos dão um desdobramento prático que funciona na convivência pacífica e saudável entre as pessoas.

É o caso, por exemplo, da Lei do Talião. Para uma época em que roubar uma galinha era vingado com a degola do assaltante, a lei de “olho por olho e dente por dente” fazia o maior sentido do mundo. Mas para quem é o ofendido, é sempre mais atraente uma vingança exagerada que garanta que nunca mais se repetirá o ato novamente, de preferência eliminando de vez o agente do crime. E isso não poderia ser permitido, pois criava animosidades intermináveis.

dar_a_outra_face Regulamentar a vingança, estabelecendo-a como justa na mesma medida em que o delito foi cometido, foi um avanço jurídico que pôs fim às contentas intermináveis entre tribos e famílias da época. Hoje, a cultura cristã supera essa noção dizendo que é pedagógico não se vingar, que devamos perdoar setenta vezes sete se preciso e ainda oferecer a outra face. Mas a vingança está tão eticamente entronada em nosso inconsciente coletivo, que nosso sistema penal só quer recuperar presos no papel.

O que parece estar por traz de tudo isso? Uma orientação divina preocupada com o dia a dia mesquinho de criaturas criadas para adorar seu criador, mas curiosamente criadas também com a capacidade de desobedece-Lo, ou a perspicácia humana de abstrair da experiência empírica os princípios práticos de um viver que melhor se adéqüe a seus objetivos?

Se levarmos em conta a segunda opção, parece-me que sobra apenas a escolha da melhor forma de persuadir os envolvidos a aplicar o saber abstraído das circunstâncias, atribuindo sua obrigatoriedade a uma ordem que teria sanções se não fosse cumprida. Somos livres para não cumprir, mas assumimos a responsabilidade de sermos punidos se não cumprimos ou o gozo de sermos recompensados se cumprirmos. Um esquema realmente eficaz.

Em que esses saberes todos, que regulamentam um melhor viver e atingem a um objetivo específico e desejado se diferem de um saber definido como científico? Para melhor tentar explicar isso preciso recorrer, tal qual fiz em minha resposta ao Osame no post Teoria, Evolução, Fato e Cientificidade - Questões Epistemológicas – Parte II, à questão do “para o quê”.

A teorização, isto é, o tipo de abstração contemplativa que gera um saber é que me sugere se aquilo que sabemos é científico ou não. No caso da conjectura que faço sobre a proibição judaica da carne de porco, a abstração de Moisés foi até ao ponto em que o problema identificado pudesse ser resolvido com vistas ao que ele pretendia, isto é, garantir a sobrevivência dos hebreus. Mas todo o processo circunscrito na observação, associação dos fatos, inferência hipotética e proposição preditiva foi feito de forma científica. E não só isso, foi corroborado quando aplicado, tanto que virou lei.

porco

O único ponto que faltou para que de fato garantisse a cientificidade daquilo que ele estava fazendo, era fazer o caminho inverso e a partir da explicação dada deduzir predições que pudessem ser controladas, reproduzidas e manipuladas para estender-se a outros saberes possíveis. No entanto, na decisão tomada e nos resultados obtidos, houve a corroboração de que a medida era correta e o conhecimento era seguro. E por que então, não é científico? Simples, por que não se estabeleceu a possibilidade de um saber Universal a ser aplicado em práticas particulares diversas. Não se criou Tecnologia, não se aprimorou ou criou uma Técnica.

Ambos são conhecimentos seguros, teoréticos e com desdobramentos práticos e empíricos. A explicação não científica não traz tecnologia a ser aplicada em outros fazeres, a científica traz. Se o saber adquirido de proibir carne de porco fosse ampliado a todos os alimentos, eles virariam vegetarianos, o que também não seria nenhuma blasfêmia. Mas não foi, era específico e particular, logo, não científico.

No comentário do Osame sobre o post mencionado mais acima, ele questiona o imbricamento que faço entre Ciência e Tecnologia e eu respondo no sentido de que a ciência só é ciência por que produz tecnologia. Será que agora minha idéia faria mais sentido a ele?

Independente da questão que demarca de fato a ciência da pseudociência, parece-me ser a capacidade de produzir tecnologia que separa o conhecimento científico de qualquer outro, sem contudo invalida-lo. É essa a tese, enfim, que defendo.

E a Gripe Suína?

Agora entra o segundo ponto que queria enfocar nesse artigo. Esse enfoque não se distancia do assunto sobre o imbricamento entre C&T em que eu e o Osame discutimos recentemente, mas traz a tentativa de entender melhor os desdobramentos do que vem acontecendo.

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Por que a gripe suína, a aviária, e tantas outras saem do controle numa sociedade que domina cientificamente os mistérios da natureza? Penso que o princípio disso esteja intimamente ligado ao que discuto em outro artigo do Filosofando chamado Alerta: Seleção Artificial, onde tento trazer uma reflexão a respeito do uso de enxaguatórios bucais a base de triclosan que estariam proporcionando a produção artificial de superbactérias arrasadoras.

Quando fui tomar minha vacina contra gripe, percebi que conforme os anos passam as gripes que pego são cada vez mais fortes e difíceis de serem debeladas. Claro que isso nos dá uma certa neura pensando na idade e tudo mais, mas sou jovem ainda rs…

virus A questão é que numa população de vírus, assim como em qualquer pool genético, seus indivíduos variam entre si em suas expressões gênicas, mutando o tempo todo e mantendo situações de equilíbrio pontuado na luta pela sobrevivência ao dividirem o mesmo nicho ecológico. Num ciclo de vida ou reprodutivo alto, qualquer interferência que afete esse equilíbrio é preenchido rapidamente pelos indivíduos melhores adaptados às novas condições.

Toda vez que tomo minha vacina anual contra gripe o vírus inativado desperta meus anticorpos a produzir os mecanismos de reconhecimento dos antígenos das variações mutantes do vírus. Logo, se eu for atacado por uma população de vírus da gripe cujo antígeno for reconhecido pelos meus anticorpos eu estou protegido e eles todos são eliminados. E o que acontece? Eu funciono como um ambiente selecionador dos vírus melhores adaptados que sobrevivem e podem se proliferar a vontade. São justamente aqueles vírus dos quais não possuímos anticorpos para combater.

Viramos, tomando a vacina da gripe, pequenos universos selecionadores dos vírus mais fortes e resistentes, fazendo com que eles predominem. Com isso os GROGs trabalham intensamente para municiar a OMS de novas informações para a vacina do ano que vem.

318 Estamos criando monstros só para que tenhamos um frugal conforto de não pegarmos mais gripes. As gripes que pegaríamos sem usarmos a vacina nos deixariam de cama alguns dias, doloridos e aos cuidados de nossos parentes como sempre foi. Talvez isso até aproxime mais as relações familiares ligadas por um cuidar mútuo. Mas não, o mercado exige que não faltemos ao trabalho, que não se gaste mais que o necessário em médicos, que a economia gire sem cessar e possamos estar sempre saudáveis para consumir, consumir, consumir….

E assim é com os produtos mais inocentes que pululam sem receitas nas propagandas lindas que vemos. Sabonetes com bactericidas poderosíssimos veiculando propagandas com crianças saudáveis e protegidas da flora jurássica de bactérias que tiraria o sossego de qualquer pai atencioso. Enxaguatórios bucais que tiram todas as bactérias que causam o incômodo mau hálito mas seleciona para a posteridade bactérias cada vez mais poderosas e de poder destrutivo. Tudo em nome de uma assepsia de um mundo pasteurizado e padrão ao gosto de quem precisa prever e comandar cada passo de nossa humanidade.

corpo-humano00 Por fim, nos vemos humanos, tomados equivocamente como ápices de uma teleologia evolutiva, impedidos de usarmos toda a arma natural que nos tornou o que somos, pra nos submetermos à pasteurização artificial de uma assepsia que está criando monstros cada vez mais poderosos e devastadores de nossas próprias vidas, em nome do lucro incessante de uma indústria que usa o fim científico que é de todos, para seu enriquecimento particular e de um sistema absolutamente auto-destrutivo.

Agora imaginem, caros amigos, constatar isso que é diretamente ligado a nós e imaginar se a produção de vírus cada vez mais poderosos vindo dos animais também não obedece esse princípio?

Se numa questão de saúde pública, onde inferimos que o interesse econômico não seja tão forte assim, estão nos transformando em pequenos nichos selecionadores de vírus mais potentes, imaginem as doses cavalares e contínuas que a indústria de alimento prepara e imuniza suas criações em escala industrial? O poder e a velocidade do potencial destrutivo, mutacional e avassalador desses vírus pode escapar até ao poder preditivo dos modelos estatísticos do Osame e nos surpreender da pior maneira possível.

É importante agora que nos aprofundemos mais nessa questão, trazendo para ela o saber científico, a tecnologia e questões éticas do saber prático.

Ciência & Tecnologia – Capitalismo & Ética

Um saber teórico, científico por gerar técnicas e saberes práticos eficientes, entregue a uma ética duvidosa pode desembocar na destruição em massa da raça humana. Alarmista? Pode ser, mas factual e verossímil.

capitalismo Osame, em seu comentário para meu artigo atribui a construção de um mito sobre a C&T no século XX por conta da Escola de Frankfurt. Eu não discordo. Penso de fato que existe um mito que vê o imbricamento entre C&T pernicioso. Adorno e Horkheimer nos denuncia em sua Dialética do Esclarecimento onde o sonho iluminista do progresso necessário promovido pela razão nos levou com os horrores do holocausto e da Bomba Atômica. Mas eles não criticam nem a ciência nem a tecnologia em si, mas o uso racional da tecnologia viabilizada pelo conhecimento científico que é posta a serviço da ambição humana que promove a exploração e a opressão do próprio ser humano.

Como esperar que qualquer conhecimento que é posto a serviço de princípios antiéticos possa promover o bem estar da humanidade? A questão é ética e política e não científica ou tecnológica, a meu ver.

Vivemos num sistema que, se não tivesse essa lógica, talvez jamais chegássemos aos avanços tecnológicos que alcançamos, mas que por outro lado, por conta dessa mesma lógica, nos usurpa o benefício que nos lega através do domínio sistemático de nossa liberdade, consciência e futuro, de forma a potencialmente e possivelmente nos exterminar da face da terra.

A cientificidade da Teoria da Evolução é demonstrada a cada instante, mas seu poder preditivo ainda não parece ser do domínio do conhecimento humano, que mesmo sem conotação ética duvidosa (no caso das vacinas contra gripe), pode nos trazer consequências desastrosas.

darwin O medo que fica é ampliar de tal forma a discussão, que o senso-comum, acostumado com a tutela da autoridade, dobre-se frente a uma proibição arbitrária de pesquisas que produzam tecnologias com potencial destrutivo. Não poderia haver discussões amplas e democráticas sem o devido conhecimento de causa sobre as vantagens e desvantagens do uso tecnológico do conhecimento científico.

A se deixar na mão tendenciosa de parte da sociedade que pretende varrer do mapa as idéias de Darwin para colocar no lugar o obscurantismo da verdade por autoridade, abriremos mão da petição de princípio frankfurtiano tão caro a todos os pensadores livres e produtores de conhecimento legítimos.

Será que não estaria na hora de uma Revolução Científica contra a tutela do capital na produção de tecnologia? Ou mesmo, na intensificação do trabalho de divulgação científica para leigos para o aumento sistemático do esclarecimento do senso-comum sobre o potencial dúbio da ciência em nos redimir enquanto humanidade ou nos destruir enquanto planeta?

São coisas que podemos pensar juntos e que também me orgulham em ter meu Blog e os sites em que participo indexados na blogosfera científica de língua portuguesa. (Anel de Blogs Científicos e Blogs de Ciência)

3 comentários:

Osame Kinouchi disse...

Gilberto,

Gostei do post, mas acho que ainda discordo. O que você chama de técnica, eu chamo de tecnologia e acho que tem mutia gente de acordo comigo(ver artigo em ingles na WIKIPEDIA).
Ou você acha que a história da tecnologia começa com o capitalismo? Eu acho que ela começa com os castores!

O que você chama de tecnologia eu chamaria de técnica dependente de teoria científica. Outros chamariam de tecnologia moderna.

Dai você dá uma reviravolta e "define" ciencia como "conhecimento capaz de produzir tecnologia". Fico pensando se dai a definicao do binomio ciencia e tecnologia não fica tautologica, pois uma definição depende da outra: "tecnologia é a tecnica produzida pela ciencia", de onde que se deduz que "ciência é o conhecimento capaz de produzir técnica produzida pela ciência"...

To achando que não dá para definir ciencia dessa forma tautológica.

E eu fico preocupado também com a exclusão que sua definição faz de 99% da ciencia que eu gosto: cosmologia, paleontologia, arqueologia, física-matemática, Relatividade Geral (será que ela é importante apenas por causa dos aparelhos de GPS?), boa parte da física estatística, etc.
Se a ciência gera (inevitavelmente) tecnologia, cada as patentes brasileiras? A grande reclamação do pessoal tipo Ruth de Aquino não é justamente que os cientistas ficam estudando coisas inuteis em vez de pesquisar coisas uteis (para o Mercado, segundo o PSDB, e para a sociedade, segundo o PT?).

Se ciência é apenas o conhecimento capaz de gerar resultados pragmáticos, conhecimentos que "não servem para nada" (tipo catálogo de galáxias e teorias de sua formação) não são científicos?

Além do mais, existem alguns principios da comunidade cientifica que sao frontalmente anticapitalistas, de modo que a relação ciencia-capitalismo não é tão simples assim:

1. O conhecimento científico é publico, enaquanto que o capitalismo prefere um conhecimento privado (patentes, segredos tecnológicos etc).
2. A ciência floresceu nos paises socialistas, onde os melhores estudantes tinham oportunidade de estudar, e nao apenas o pessoal que pode pagar universidades.
3. A maior parte dos cientistas vem da classe trabalhadora, nao da burguesia (que prefere que seus filhos sejam empresarios, advogados, medicos ou politicos).


Eu ainda acho que a ciência está mais próxima da filosofia do que suspeita nossa vã filosofia... O seu carater de filosofia natural permanece, e num mundo pós industrial, se afirma ainda mais (a big science é industrial, o grosso da pesquisa é neo-artesanal dado que o barateamento das ferramentas de pesquisa - especialmente computadores - devolve ao pesquisador a posse e mesmo a propriedade de seus meios de produção).

E se você pensar bem, a tecnologia de guerra (técnicas de guerra na sua definição, lanças, arcos e flechas, selas de cavalos, escadas de assalto, arietes, catapultas) precede a ciência (Mecânica) e mesmo a ciência da guerra (A Arte de Guerrear do Sun Tzu etc).

Eu acho que a questão ética preemente tem a ver com a tecnologia, não com a ciência. Mesmo sociedades não científicas continuariam a ter grande potencial imperialista se valorizassem apenas a engenharia e as técnicas. Vide o exemplo do império Romano: você conhece algum matemático ou físico romano famoso? Eu não.

Luis disse...

Muito bom o post, o blog é ótimo com posts muito interessantes... Parabéns pelo seu trabalho... Visita meu site: contabilidademantiqueira.com.br desenvolvido pela namp.com.br

Emanuela disse...

Oi, gostei de seu blog!Faço História e adoro Filosofia.rsrsr Posso te seguir???
Emanuela.

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