segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Paulicéia da Cefaléia: parabéns São Paulo 456 anos

Jockey Club de São Paulo A cidade de São Paulo chega ao seu 456º aniversário em estado de alerta pelas chuvas. O levantamento até ontem, dia 24/01/2010, dava conta de pelo menos 60 mortes desde o dia 1º de Dezembro. Junto a isso shows espalhados pela cidade faz a média por parte do governo da 4ª maior cidade do planeta.

São Paulo vive um cenário que deveria suscitar imensas discussões das pessoas engajadas na melhoria urbana, na discussão dos problemas nas megalópoles e tantos outros trabalhos visando prever e minimizar os efeitos do crescimento dessa cidade que responde por 33% do que é produzido em todo país. Porém vive no ostracismo de sua grandeza como se, comparado ao resto do Brasil, não tivesse o que reclamar. Tem sim, e muito!!!

Por outro lado, o mito do Sul Maravilha ainda persiste, fazendo com que cheguem os “ainda” desvalidos de todo canto para tentarem a sorte, como se São Paulo ainda precisasse ser construída por mão-de-obra semi-escrava para depois relega-la aos cinturões periféricos que lhe dão a fama de violenta a se organizarem em poderes paralelos que aterrorizam tantos os paulistanos quanto os migrantes e imigrantes que fazem dessa terra uma polinésia tupiniquim.

Mario de Andrade por Di Cavalcanti São Paulo já foi palco de revoluções, movimentos culturais importantes, que trouxeram os paulistanos e a cidade sempre em uma posição de vanguarda, apesar dos protestos dos “descolados” que se constituíam, por anuência e interesse do Estado, “os progressistas”. Assistimos aqui o nascedouro de movimentos que contaminaram o Brasil e o mundo, mesmo que esses movimentos não fossem protagonizados por seus “nativos”. Aliás, terra de Oswald, Mario e Rita Lee; terreno propício ao Tropicalismo Antropofágico e à Afrociberdélia do Mangue Beat, São Paulo importa, mastiga e cospe ao mundo tudo que lhe chega; abrigando, acolhendo, mas também fazendo sofrer, querendo luta e superação… São Paulo é antropofágico. Ele come seus inimigos e se torna mais forte. Quando é comido, irrompe das entranhas e surge mais forte. São Paulo é o único lugar do país em que podemos dizer: “é de todos nós”.

Do sotaque “italianado” ao arrastado caipira, já não sabemos mais como paulistano fala: ele fala a linguagem do mundo; terra de mil povos.

 

Uma Poesia a partir de SP

Em meados de 98/99 fiz uma poesia que expressava, ao menos na época, minha impressão da minha cidade. É curioso, e isso não é privilégio de paulistano, que somente nós, nativos, podemos falar mal e criticar nossa cidade. Viramos um “bicho” quando alguém de outro lugar vem falar da cidade, por mais pertinente que sejam as observações. Mas nós podemos, pois sabemos no fundo que nossa crítica não é excludente; é uma crítica que abriga um profundo desejo de melhora. São Paulo é grande demais, megalópole de um pais de terceiro mundo, não tem como não abrigar diversos problemas. Mesmo assim é o lugar da diversidade, do multiculturalismo, da transdisciplinariedade.

Abaixo segue a poesia… Pus em áudio também, com a música “Sampa” do Caetano Veloso ao fundo interpretada por Raphael Rabello ao violão e Paulo Moura no clarinete (instrumento que toco, inclusive) – espero que gostem e comentem…

 

CEFALÉIA NA PAULICÊIA

Paulicéia desvairada…
Panacéia virulenta…
Em teu destino nordestino,
Sem dar cabo da miséria,
Migra a morte desvalida,
Entranhada na matéria.

Na paulicéia esvaída,
Nos Sangues secos nas calçadas,
Gangues soltas na calada,
Exigindo mais-valia…

No concreto armado,
Copulando com suas cúpulas,
Nunca dorme, desabrigos,
Nunca morre, desafetos…

Paulicéia mariana…
Paulicéia da cefaléia rushiana
O clamor de tuas ruas
É pelo calor nos corações técnicos,
Pelo afago na cabeça prática,
Pela atenção à língua crítica.

Paulicéia desvairada,
Polinésia sarracena,
Em mil povos que te fazem,
Em mil poros que te esvaem
Suas pústulas de urbanidade,
Nasce vida das entranhas…

Paulicéia… Paulicéia….

By Gilberto Miranda Júnior

 

Músicas para São Paulo

Abaixo resolvi fazer uma coletânea de músicas que, para mim, traduz o espírito da cidade. Espero que gostem. Claro que qualquer coletânea falta sempre alguma música, mas não quis também abusar do servidor. É uma coletânea “minha”, quem quiser que faça a sua, o importante é homenagear.

Beto Lee – Maníaco – do CD Todo Mundo É Igual

Filho de Rita Lee, músico que acompanha a banda da mãe durante muito tempo e agora sai de sua sombra para enfrentar uma carreira própria. Adorei essa música, bem paulistana mesmo, como são suas raízes…

IRA ! – Pobre Paulista

Uma banda típica paulista. Fez a cabeça dos fás da década de 80 e vive até hoje nos corações roqueiros de Sampa. Essa música é ícone, clássico, imperdível….

365 – São Paulo

Um dos hinos mais lindos para a cidade. Essa banda, também da década de 80, é oriunda do movimento pós-punk. Os atuais Emos poderiam aprender muito com essa banda. Ela une o sentimento com a força, sem cair na pieguice; é poética sem ser patética (nas palavras do Portal do Rock). Ótimos…

Premeditando o Breque – São Paulo

O famoso (ao menos para os paulistanos) Premê, é uma banda que une rock, MPB e até música erudita com um humor irreverente e crítico. Um dos vocalistas, Wandi Doratiotto apresenta até hoje o Bem Brasil na TV Cultura de SP. Essa música, um clássico também, para quem está longe de Sampa é uma “coisa”; fala de quase todos os bairros da cidade, um verdadeiro tour saudosista. Ela começa com uma verdade fundamental, por mais nervoso que passemos ao trânsito: “É sempre lindo andar na cidade de São Paulo".

Adoniran Barbosa - Trem das Onze

Outro clássico. Talvez o clássico dos clássicos. Adoniran mostra que até gênios se equivocam quando Vinícius disse que São Paulo era o túmulo do samba. Se houvesse uma metafísica do samba, talvez fosse possível dizer isso, mas Adoniran fez samba e samba da maior qualidade: simples, mas não simplório, falando coisas da vida, do cotidiano e do tema universal humano: o amor (com muita irreverência também). Saudades do Jaçanã, puxa…

Tom Zé - São São Paulo

Tom Zé é gênio. Só. Nascido em Irará, na Bahia, talvez seja o mais paulistano dos paulistanos. Recomendo veementemente assistirem o documentário Fabricando Tom Zé de Decio Matos Jr para entender, ou vislumbrar a grandiosidade desse homem, desse artista, desse gênio. Essa música, uma linda homenagem a São Paulo, consagra e mistura a história do autor com a cidade que o acolheu.

Caetano Veloso – Sampa

De uma inteligência rara e posicionamentos polêmicos, esse outro baiano que fez Sampa,compôs um dos hinos mais lindos para a cidade influenciado pela poesia concreta dos paulistanos irmãos Campos. O que dizer de Caê? É Odara demais rs…

Dinho Ouro Preto e IRA! - Hino do São Paulo FC

Como bom são-paulino não poderia deixar de colocar o hino do time que tem o nome da cidade aniversariante. Podem reclamar, tudo bem. Essa gravação é ontológica, ainda mais com a voz de Telê Santana nos solicitando para cantar. Eu sei, muita gente não vai nem clicar no Play, mas tudo bem rs…

 

Bem, é isso! Feliz Aniversário São Paulo!!!!

2 comentários:

Angelillo disse...

Que extraño... Ahora se habla más de Sao Paulo en España por el tema de las inundaciones y caemos en la cuenta que es la ciudad más grande de toda Sudamérica, y leo en tu post que produce un tercio de la riqueza nacional.

Sí, quizás es la gran olvidada de vuestro país. En España, más o menos conocemos Salvador de Bahía, Río de Janeiro, e incluso Portalegre, pero con S.P. solo nos llega sinónimos de industria, suciedad, favela... Buen post para acabar con esto.

Y buena selección musical, parabems!!!

Gilberto Miranda Jr. disse...

Muito interessante sua observação, amigo Angelillo. Por ela é possível entender como um país constrói sua imagem no exterior e a que essa imagem serve culturalmente e economicamente...

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