sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Vida Feliz é Com Prazer - Epicuro

Uma vida feliz, doce e sempre digna de ser vivida é o desejo de todo ser humano razoavelmente são. Mas como conseguir tal vida se a todo instante somos acometidos por variados desejos nunca satisfeitos e aspirações frustradas pelas contingências ? Epicuro nos ensina como conseguir tal coisa...

Curiosamente, ao contrário do que muitos pensam, Epicuro não pregava o prazer pelo prazer, nem a satisfação de prazeres imediatos. Associam o Epicurismo ao Hedonismo de forma totalmente equivocada. Epicuro faz clara distinção entre prazeres inferiores e superiores, colocando-os como sensíveis e espirituais, respectivamente.

Infelizmente, como na maioria dos filósofos gregos (excetuando-se Platão e Aristóteles - convenientemente preservados pela Patrística e pela Escolástica), restaram-nos poucos escritos de Epicuro, onde temos :

> Sobre Física: Três Cartas, Quarenta Máximas, o Testamento e a Carta a Heródoto;
> Sobre os Fenômenos Celestes : Carta a Pitocles
> Sobre Ética : Carta a Meneceu.

Sua ética é poderosa e a Carta a Meneceu merece um destaque especial quando buscamos entender seus ensinamentos em relação à felicidade. Para Epicuro o prazer e a felicidade são os critérios condutores dos seres humanos e a problemática enfrentada em sua filosofia está em definir qual é o verdadeiro prazer e como maximizar o bem-estar pessoal.

Ele lembra que um prazer imediato e fortuito pode estar ligado muitas vezes a uma dor futura. Por isso ele submete à razão a busca pela felicidade. Para ele, somente entendendo suas necessidades reais, é que o homem poderá buscar racionalmente sua felicidade, vivendo no verdadeiro prazer que o conhecimento lhe confere.

Vejamos como ele entende as necessidades humanas, que para ele se dividem basicamente em 3 :

1. Necessidades Naturais e Essenciais : aqui nos remete à hierarquia das necessidades de Maslow. São nossas necessidades básicas, fisiológicas, biológicas e sociais. (fome, sono, sexo, segurança, amor, realização pessoal, estima, etc).

2. Necessidades Naturais e não Essenciais : essas precisam, segundo Epicuro, serem buscadas com moderação e está intimamente ligadas à motivação que as desenvolvem. Se formos moderados e racionais, saberemos por exemplo, que nossa necessidade natural e essencial de realização pessoal, não pode estar ligada a um desejo de poder pelo simples poder, levado à cabo por orgulhos, vaidades, luxúria e etc. Ele elenca aqui também os exageros em relação à gula, bebedeiras e etc. Essas necessidades seriam uma variação supérflua das anteriores.

3. Necessidades Não Naturais e Não Essenciais : essas, segundo Epicuro, nunca devem ser buscadas. Possuem natureza artificial e se constituem como uma espécie de subproduto (que pode até ser aceitável) da busca da felicidade real, pela razão, a ser empreendida em nossa vida. Aqui encontram-se a glória, sucesso, riqueza, saúde e beleza, por exemplo. Esses prazeres se constituem uma consequência de uma vida regrada e não em necessidades reais que podem determinar sua felicidade enquanto ser humano.

 

Alguns sábios conselhos desse filósofo para viver feliz e com prazer :

1. Os deuses existem e não se ocupam com os homens;
2. A morte não deve ser motivo de temor. Quando ela está presente, nós não estamos; quando estamos presentes, ela não está;
3. O sábio, assim como não procura os alimentos mais abundantes e sim os melhores ao seu corpo, também do tempo aprecia não o mais longo, mas o mais doce;
4. Devemos nos lembrar, ainda, que o futuro não é nosso nem inteiramente não nosso: não devemos aguarda-lo como se seguramente devesse chegar, e não devemos nos desesperar como se seguramente não pudesse acontecer;
5. Consideramos um grande bem a independência diante dos desejos, não porque é necessário ter somente pouco, mas porque, se não temos muito, sabemos nos contentar com pouco; profundamente convencidos de que goza da abundância com maior doçura quem menos dela necessita, e de que tudo que a natureza requer é facilmente encontrável.

Epicuro, com esses dizeres, nos exorta a administrar nossas necessidades. A partir desse ponto, quanto menos necessitarmos de algo, maior o prazer em obte-lo, pois não o procuramos, não o desejamos. Esse pensamento, de desapego ao que não é necessário, desapego a desejos, fazem ecos no Budismo.

Sempre precisamos nos perguntar : é preciso ? Se racionalmente, honestamente e sinceramente a resposta for "Não", teremos algo de que não dependa nossa felicidade, ou pelo menos não deveria depender. Parece simples não é ? Mas não é... Existem necessidades criadas em nós, pelo meio, pelo sistema, pela mídia, e pelos grupos em que participamos em nossa vida em sociedade. A contemporaneidade transformou a nossa vida numa corrida incessante para satisfação de necessidades que em muitas vezes não são nossas, legítimas.

É revisitando velhos sábios filósofos que podemos ver o quanto estamos na contra-mão do bom-senso, muitas vezes pautando nossas vidas em necessidades ultrapassadas, em convenções e modismos, e deixando nossa felicidade nas mãos dessas necessidades. Pensem.... será que é possível tomar nossa felicidade por nós mesmos e encontrarmos um jeito de sermos felizes ? Pergunte a Epicuro.

1 comentários:

Anonymous disse...

Parabéns pelo texto Miranda, é bom conhecermos mais sobre Epicuro e saber que outros também enfrentaram esse tema sobre felicidade.

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