
O próprio homem faz isso consigo mesmo. Ele se classifica, se separa, se categoriza e vive contestando e brigando por conta disso. Classifica e categoriza até as borboletas. A borboleta pensa sim. Mas não pensa como os humanos. Por que ela precisa ser uma lepidóptera? Que diferença faz ela ser lepidóptera ou um coleóptero? São nomes, apenas nomes, e seres humanos acreditam que nomes tragam o ser daquilo que eles nomeiam. Mas nomes não carregam essência, nomes são nomes.

Ela, em seu contato próprio, intrínseco com o mundo, tem o poder que lhe cabe; puro fluxo contínuo amalgamado com as coisas, cumprindo seu papel desde dentro naquilo que melhor expressa ela própria. Não precisa saber e objetivar, ela é, simplesmente é. E sendo o que é, cria no mundo sua marca de ser, sem se importar com o que é, apenas sendo, continuamente sendo.
Os homens não conseguem ser por si mesmos. Eles precisam mudar o ser dos outros para construírem-se como desejam. Subvertem a natureza a um quadro fixo e imutável das coisas, desrespeitando aquilo que ela tem de mais característico: a mudança constante de tudo. Não é admissível ao homem que a as coisas mudem, transformam-se, passem a não-ser no segundo seguinte que eram. Se mudam de categoria daquilo que o homem determinou que fosse, não é a categoria que está errada, e sim a coisa, pois ela não pode mudar. Se mudar era por que não era verdadeira, era falsa. Ahhh homens...
E onde tudo isso começa? A borboleta sabe. Sabe por que sabe, e não por que racionalizou as coisas para que soubesse. Ela participa da sabedoria do mundo pois está dentro do fluxo contínuo das coisas, interferindo nele e sendo afetado por ele. Ela sabe que é a consciência da finitude que faz com que o homem fixe e imobilize tudo à sua volta. Ela sabe que é por isso que ele precisa nomear as coisas e imobiliza-las, por que dentro dele a percepção do tempo, da sucessividade e da mudança mostram ao homem que ele logo deixará de ser o que ele pensa que é. Imobilizar o mundo é a forma do homem eternizar o que ele pensa que conhece.

A borboleta ri disso tudo. Ela sabe que sua eternidade está naquilo que a faz parte da própria natureza e no seu fluxo constante da vida, que muda e se espraia em possibilidades de acordo com o moto contínuo de tudo e dos rearranjos constantes na alteridade. Cada ser vivo é dialético com o mundo. Ele se faz e faz o mundo no contato com ele. Eis aí a sensação da própria infinitude: ela está na percepção do movimento.
Comprometer-se com o mundo e responsabilizar-se por si é respeitar aquilo que lhe dá máxima expressão existencial, a sua Aretê. Encontrando-a você será aqui que é, sem que precise determinar-se em categoria existencial alguma.
Voa borboleta, você sabe. Sabe tudo.
3 comentários:
Sabe uma das coisas que mais admiro nos animais?A liberdade de movimentos...Nas crianças também.
Utilizam o espaço todo de maneira generosa,sem pensar nas consequências.
Quando vejo um cachorro atravessando a rua num rompante só,eu sofro(boba né?)Sofro pela possibilidade desastrosa.
Sofro por mim,na verdade,pq o animal,se morrer,morre feliz!Morre fazendo livremente aquilo que ele queria,atravessar a rua.Nós"adultos"um dia prometemos não sermos como nossos pais...Quando foi entramos na maquininha de rotular?E o mais importante,como faz pra sair daqui?
Penso que saímos pontualmente, amiga querida. Nao sei se é possível viver sem que nos seduzamos por pousar um "olhar ordenador" às coisas em nossa volta. Precisamos dele, infelizmente.
Mas isso não significa que é só esse olhar que devamos ou consigamos lançar o tempo todo. Outros olhares e formas de ser parecem-me ser extremamente necessários para que possamos suportar o peso da própria existência. Nesse post, sugiro o olhar da borboleta, mas gostei do olhar canino a que vc nos remete...
Obrigado sempre...
Roubaram seu texto.
O blog que te copiou foi o yulecavalcantedealbuquerque.blogspot.com.br/
Cuidado. Existe no google uns htmls simples para impedir seleção de texto e clique de mouse na sua pagina, é só procurar no google.
Dá uma olhada lá.. Eu achei o seu blog copiando a primeira frase do texto e colocando no google, porque eu sabia que essa menina nao tinha capacidade para escrever um texto bom desse, com gramática impecável. E por sinal, ótimo texto, parabens!
Postar um comentário
Aqui você terá o direito de opinar, comentar, fazer uma crítida, dar uma sugestão ou escrever o que você quiser, desde que mantenha um nível de civilidade e não ofenda ao autor ou a outro comentarista. Os comentários serão respondidos aqui mesmo... Obrigado pela visita...